Eduardo Pereira Dias tomava duas doses de insulina por dia por ser diabético. Após sentir uma intensa dor lombar, no dia 24 de janeiro foi assistido no hospital da Unidade Local de Saúde do Oeste sediado nas Caldas da Rainha. Foram-lhe dadas uma injeção e medicação e feito raio X, que nada acusou, e voltou para casa, em São Martinho do Porto, onde residia com a esposa e o filho de ambos, de quatro anos.
Como não apresentava melhoras, regressou ao hospital no dia 26 para tomar nova injeção, porém, o estado de saúde agravou-se e no dia seguinte a terceira dose da injeção foi administrada por uma enfermeira do centro de saúde de S. Martinho do Porto, que foi até à sua casa. Perante a falta de ar e suor excessivo, foi preciso chamar os bombeiros para levá-lo ao hospital com urgência.
A viúva, de 28 anos, contou que “chegou com o rim parado e o coração a duzentos, entubaram-no e colocaram-lhe oxigénio, e falaram para eu ir para casa e voltar às sete de noite para o horário de visita”.
“Assim que cheguei a casa, ligaram-me para eu voltar, porque o corpo não estava mais respondendo e ele não se estava a mexer. Corri para lá e quando cheguei já tinha falecido”, adiantou.
“O médico falou que ele tinha dado entrada em choque, por conta das medicações, que ele não podia tomar porque tem diabetes e fazia uso da insulina”, relatou Mylena Fernandes, que apontou que “provavelmente foi o remédio e as injeções que ele tomou que não deram certo com a insulina, daí as reações que ele foi tendo”.
O cenário de conflito com a diabetes é reforçado pela desconfiança da viúva de que quando Eduardo Dias se deslocou ao hospital pela primeira vez com dores “não viram o prontuário [designação no Brasil para o histórico das informações médicas do paciente]”.
“O médico falou que ele não tinha dito que tinha diabetes e eu respondi que ele já lá tinha estado algumas vezes em 2023 e 2024 por causa da diabetes, fez ali consulta, acompanhamento e obteve medicamentos da diabetes”, descreveu Mylena Fernandes. “Ele tinha uma saúde boa, a gente fazia academia [treino de ginásio] e foi de uma hora para outra”, sustentou. Eduardo Dias apresentava um forte porte atlético.
À distância, no Brasil, Viviane Dias, irmã do falecido, afirmou: “É uma dor muito grande e dolorosa perder o meu irmão por erros médicos”.
A família ainda espera pela certidão de óbito, que só será fornecida após a autópsia para determinar a causa da morte no Gabinete Médico-Legal Forense do Oeste, em Torres Vedras.
A administração da Unidade Local de Saúde do Oeste disse que “a situação relatada era desconhecida deste órgão de gestão. O cadáver foi enviado para autópsia, para averiguação da causa de morte, apesar de nada indiciar até ao momento má prática”.
Apenas após a autópsia é que o corpo é desbloqueado e se poderá iniciar o processo de transladação para o Brasil, o que se estima custar mais de onze mil euros (setenta mil reais), montante que está a ser angariado através de uma página na internet (https://www.eduardo.tecnare.com.br) criada para as doações. Foram já reunidos cerca de cinco mil euros (trinta mil reais), o que representa perto de 43% do valor.
Segundo é explicado no site, as doações serão também utilizadas para cobrir os custos do funeral e aliviar as despesas de Mylena Fernandes, que trabalha num supermercado na freguesia de Alfeizerão.
O Governo brasileiro, seguindo o que está instituído num decreto de 2017, não paga os custos da transladação e apenas presta apoio administrativo, ficou a saber a viúva, depois de contatar a embaixada do Brasil em Portugal.
O casal estava junto desde 2019 e em agosto de 2022 ele mudou-se do Brasil para Portugal à procura de melhores condições de vida. Ela veio depois, em novembro de 2023. Eduardo Dias, natural de Uberlândia, na região sudeste do país, e filho de um conhecido jogador de futebol da década de 70 daquela região, trabalhava em Famalicão da Nazaré como barbeiro, e aos fins-de-semana era segurança num bar em São Martinho do Porto e ajudante de cozinha num restaurante na Foz do Arelho.
Para além do filho que vivia com o casal em São Martinho do Porto, Eduardo Dias tinha outros três filhos (dois do primeiro casamento e um do segundo casamento), que moram em Uberlândia.