Segundo Sara Brighenti, a principal meta da iniciativa é integrar a cultura e a educação nas políticas municipais, algo que, embora fundamental, ainda não é uma realidade em muitas autarquias.
A responsável sublinhou que, enquanto muitas autarquias já possuem planos educativos ou estratégicos para a educação, a cultura ainda sofre de grandes lacunas. “É uma realidade no país cada vez mais frequente encontrarmos autarquias que não possuem um plano estratégico definido para a cultura”, afirmou.
A ausência de um plano estratégico de cultura dificulta a tomada de decisões informadas e a alocação de recursos adequados, elementos essenciais para o desenvolvimento de políticas culturais eficazes.
Sara Brighenti destacou a importância de pensar a cultura e a educação de forma integrada, sem separações.
A subcomissária também revelou que o trabalho começou com ações de formação em várias regiões, particularmente na zona centro do país, onde a falta de uma visão estratégica sobre cultura é ainda mais evidente, especialmente em autarquias menores. “Fizemos uma formação para que se comece a pensar neste sentido, isto implica fazer um diagnóstico do território”, explicou.
Para esta responsável as autarquias que já têm planos estratégicos para a cultura e educação podem agora trabalhar na integração das duas áreas. “E já temos algumas autarquias a fazê-lo, o que nos deixa muito felizes”, disse.
A estratégia do PNA inclui também uma componente formativa que visa apoiar as autarquias na construção de planos estratégicos de cultura, ampliando o alcance e a eficácia das políticas culturais em todo o país.
O PNA irá alargar a sua atuação ao ensino superior nos próximos cinco anos, consolidando o trabalho iniciado em 2019 e reforçando os indicadores de monitorização do impacto cultural. Sara Brighenti explicou que o objetivo é promover a responsabilidade cultural de cada cidadão, com medidas que também se aplicam às entidades de ensino superior.
“A estratégia estrutural é a mesma que aplicamos às escolas, até ao ensino secundário, e agora será direcionada para o ensino superior”, afirmou.
Um dos principais programas será o Artista-Residente, que visa integrar artistas no ensino superior, tanto como mentores quanto transformadores, algo que, segundo a subcomissária, ainda é uma lacuna em algumas instituições.
Sublinhou igualmente a importância de integrar a cultura no currículo do ensino superior, através da Cultura no Currículo, uma medida que visa permitir que os alunos acumulem créditos ao participarem em atividades culturais. A subcomissária revelou que este é um tema em debate com o conselho de reitores, com um grande consenso de que a formação dos estudantes precisa incluir um contacto mais profundo com a cultura.
Indicou também que o PNA não funciona como um centro, mas como uma rede de conexões entre as pessoas, de todas as idades e com diversas diferenças. O principal objetivo é estabelecer essas ligações, especialmente entre a cultura e a educação, sempre com base nos direitos culturais.
A subcomissária destacou a importância da Carta do Porto Santo, documento de orientação nas áreas da Cultura e Educação, revelando que iniciaram na ESAD.CR e nas Caldas da Rainha “uma Adenda à Carta do Porto Santo, com a participação de jovens, e professores. “Tem o nome de Caldas da Rainha porque nasceu aqui convosco”, disse.
“As equipas dos museus precisam de crescer”
Houve uma conversa com vários artistas e representantes de escolas e museus que falaram de alguns projetos locais ligados à PNA.
Nicole Costa, diretora dos Museus José Malhoa e da Cerâmica, nas Caldas da Rainha, sublinhou a importância dos museus na vida das pessoas e a forma como estas instituições podem contribuir para a educação e o desenvolvimento cultural da comunidade.
Entre as iniciativas de destaque estão os “Cafés com Professores”, encontros que promovem a troca de ideias e o diálogo entre educadores, e a “Roda de Memórias”, uma atividade direcionada a educadoras de infância, que tem como objetivo incentivar a partilha de experiências e conhecimentos. “A educação faz-se com toda a gente que colabora connosco ao longo da vida”, afirmou Nicole Costa, reforçando a importância de parcerias e colaborações com a comunidade educativa.
Nicole Costa fez ainda referência a alguns projetos específicos, como a realização de “A Verdade Dói” no Agrupamento de Escolas Bordalo Pinheiro, uma ação que visou debater a violência, especialmente a violência sofrida por mulheres.
Outro projeto relevante foi “Quantos bichos Bordalo tem?”, que envolveu o Museu da Cerâmica e o Agrupamento de Escolas Raul Proença, promovendo a fusão entre o desenho e a cerâmica.
A diretora também sublinhou a relevância de eventos culturais como o Encontro Nacional de Teatro e a Bienal do PNA, que são vitais para a divulgação dos museus e para a sua interação com a cidade. A colaboração com a ESAD.CR, através de projetos desenvolvidos pelos alunos, foi igualmente mencionada como essencial para “criar uma rutura no quotidiano da cidade”.
No que diz respeito ao futuro, Nicole Costa frisou a necessidade de continuar a investir na formação e no crescimento das equipas dos museus, para que possam oferecer uma programação educativa cada vez mais diversificada e alinhada com as questões contemporâneas. “Precisamos de continuar a fortalecer as equipas dos museus, com formações contínuas e incremento das equipas, precisamos de ampliar e variar a oferta educativa dos nossos museus, menus temáticos de atividades, trazer mais conexões com as questões contemporâneas”, declarou. A diretora concluiu dizendo que os museus devem consolidar ainda mais o seu papel como uma extensão da sala de aula, enriquecendo a educação formal e informal.
Kevin Claro, artista residente na zona Oeste e ex-aluno da ESAD.CR, tem trabalhado em projetos escolares, criando ligações com diferentes agrupamentos. Destacou que, apesar de não ser um artista oficial do PNA, tem colaborado com diversas escolas e professores.
Compartilhou algumas experiências de projetos que realizou com os alunos. Em 2021 e 2022, como tutor de Atividades de Enriquecimento Curricular, questionou uma turma sobre o que gostariam de ter na escola, e o resultado foi um empate entre um parque aquático e um parque de diversões. Começaram a desenvolver um parque de diversões com materiais escassos, mas com muitos pneus. A partir disso, criaram protótipos, desenhos e pequenas esculturas. Isso resultou no “Manual do Pneu”, um livro que detalha o projeto e as brincadeiras que os alunos inventaram com os pneus. O livro tem páginas em branco, permitindo que outras escolas possam criar e adicionar novas brincadeiras, formando um manual nacional.
Em 2022-2023, juntamente com Laura Figueiras, Kevin Claro ganhou uma subvenção da Direção-Geral das Artes para um projeto que envolveu a criação de livros e cadernos a partir de materiais reciclados, como papel, tecido e cartão. Trabalharam com escolas da periferia de Caldas da Rainha, ensinando os alunos a diferença entre reciclagem e reutilização, além de os incentivar a encadernar os próprios cadernos escolares com materiais reciclados. A terceira parte do projeto envolveu a participação de artistas locais que inspiraram os alunos a desenvolverem os seus próprios desenhos e criações artísticas.
Atualmente, Kevin Claro está a desenvolver um projeto com a empresa caldense de tapetes Santos Monteiro, que lhe forneceu antigos catálogos que iriam ser destruídos. Pretende transformar esses catálogos em kits de encadernação escolar, compostos por furadores, agulhas, linha, cola e pequenos manuais de encadernação, que serão distribuídos pelas escolas. O objetivo é financiar o projeto com a venda de formações, nas quais os professores aprenderiam a usar os kits e aplicá-los com os alunos. O artista espera que este projeto se expanda a nível nacional.
Ana João Romana, docente da ESAD.CR, também falou em projetos que têm feito como uma residência artística dos estudantes de Práticas Artísticas Sociais no Museu do Hospital e das Caldas, entre outros. “Temos aqui um ecossistema fantástico nas Caldas entre as instituições culturais, artistas residentes, professores e estudantes, o PNA permitiu-nos criar este ecossistema que tem estado a funcionar. Os projetos foram lançados aos estudantes e criados em sala de aula”, contou.
O evento incluiu conversa com Amabile Bezinelli, artista residente no Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, que partilhou alguns dos projetos que tem vindo a desenvolver. “O meu papel enquanto artista é criar espaço para que os alunos possam criar”, afirmou. “Ao analisarmos o contexto escolar, percebemos que faltava um espaço de criação e autonomia dentro da escola.
No final foi apresentado o Caderno Criar Coragem, projeto do PNA com autoria de Hugo Cruz, Tiago Galo e Ana do Canto.