Uma das ações mais relevantes do projeto será a criação de uma plataforma que vai ligar o comércio tradicional ao digital e que deverá estar a funcionar no verão e abranger mais de 500 comerciantes.
Este projeto integra a medida Bairros Comerciais Digitais, financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e promovida pela Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI).
O Bairro Comercial Caldas da Rainh@ é um dos 95 aprovados no país e a candidatura resulta de uma parceria estratégica entre o Município das Caldas da Rainha, a Associação Empresarial da Região Oeste (AIRO) e a Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste (ACCCRO). “É inspirado pela tradição e pela visão empreendedora da Rainha D. Leonor, e pela dinâmica comercial da Praça da Fruta, e pretende revitalizar o comércio local, unindo história, cultura, turismo e modernidade”, explicou Sara Lopes.
“Hoje em dia, o comércio tradicional evoluiu, tornando-se mais próximo das pessoas e mais personalizado, e essa transformação pode ser muito bem aproveitada. Cada vez mais há quem valorize o comprar nacional, o comprar local, a sustentabilidade e a economia circular, e é nesse caminho que devemos seguir”, afirmou a responsável, dirigindo-se a uma sala cheia de entidades, comerciantes e empresários.
Mas para isso Sara Lopes disse que “é essencial inovar, mantermo-nos atualizados e continuar a aprender”. “Sabemos que a realidade de hoje provavelmente não será a mesma de amanhã e muito menos a de daqui a cinco anos. Nesse sentido, o projeto surge como uma solução para unir a tradição, tão caraterística do comércio e dos serviços de Caldas da Rainha, com a modernidade, apoiando a sua continuidade”.
Bairro Comercial Caldas da Rainh@ abrange uma área comercial de 26,66 hectares, localizada no centro da cidade, onde foram identificadas mais de 500 atividades económicas distribuídas pelos vários setores, com impacto direto na economia local. Mas segundo a gestora, vai ser “aberto a todos os comerciantes, mesmo que os estabelecimentos se localizem fora da área do projeto”.
Município cria plataforma digital
Uma das valências do Bairro Comercial Digital contempla uma Plataforma Digital (site, app e muppis digitais) que conta a história do bairro e fazem a ponte entre comércio, cultura e turismo.
A marketplace é a venda online para clientes locais, nacionais e internacionais.
“A plataforma permitirá ao comércio das Caldas da Rainha criar novas fontes de receita e atrair novos públicos e deverá estar pronta a funcionar em junho”, revelou a gestora do projeto.
“Os comerciantes que aderirem ao projeto gratuitamente terão oportunidade de aderir à marketplace, onde poderão comercializar online os seus produtos para clientes locais, nacionais e internacionais, aumentando, assim, a competitividade com os grandes retalhistas e alargando o seu horário de funcionamento para 24 horas por dia, entre outras vantagens”, adiantou a responsável.
Serão implementados cacifos inteligentes, oferecendo maior conveniência para a entrega e recolha de encomendas. “Os consumidores poderão retirar os produtos adquiridos online em três pontos distintos, com a adição de cacifos refrigerados nas imediações da Praça da Fruta”, indicou.
Além disso, a realidade virtual será enriquecida com experiências imersivas que integram turismo e comércio.
Haverá também um sistema de mapeamento de estacionamento e geoanalytics, uma ferramenta que indicará lugares disponíveis e analisará o fluxo de visitantes, otimizando, assim, a experiência comercial.
A infraestrutura de internet será aprimorada, com uma rede pública reforçada para apoiar a digitalização dos negócios.
Mais eventos e dinamismo estarão presentes, como feiras culturais, exposições, arte urbana e workshops, todos com o objetivo de atrair o público.
Formação gratuita em parceria
Sara Lopes destacou a importância da formação e capacitação de comerciantes e empresários, visando o desenvolvimento das competências digitais no comércio e nos serviços. “Os comerciantes poderão inscrever-se em 20 ações de formação de curta duração, gratuitas e certificadas, numa parceria com a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste”, explicou, acrescentando que essa iniciativa permitirá aos comerciantes adquirir habilidades essenciais para o crescimento de seus negócios, com apoio no uso de ferramentas digitais, marketing e vendas online. O programa de formação, que começa em abril, foi adaptado às “necessidades específicas do comércio e dos serviços”.
A formação será gratuita e certificada, oferecendo conteúdos “práticos e aplicáveis”. Embora a maioria das aulas seja presencial, haverá também algumas online. Os horários foram ajustados (das 19h00 às 22h00) para facilitar a participação dos comerciantes e suas equipas. Entre os cursos disponíveis até o final de julho, destacam-se temas como: Empreender na Era Digital, Criação de Marca na Era Digital, Fotografia e Vídeo para Redes Sociais, Gestão de Redes Sociais, Storytelling para Redes Sociais e Inteligência Artificial no seu Negócio: Novas Ferramentas.
Segundo Sara Lopes, o projeto engloba parcerias que criam sinergias. Em colaboração com a Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, os alunos do curso de Audiovisuais estão a realizar estágios e a dinamizar um projeto de vox pop de rua, recolhendo testemunhos de comerciantes e clientes.
Outra novidade será a emissão de um podcast, que será lançado na quinta-feira da próxima semana, com base numa ideia de um comerciante local, a tradicional “Loja do sr. Jacinto”. Intitulado “Achas que já conheces?”, o podcast dará voz aos comerciantes locais, através de uma parceria também com alunos da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro.
Sara Lopes frisou que a ideia do bairro não é competir com nenhum comércio ou serviço, pelo contrário, a proposta é apoiar, e tudo isso de forma totalmente gratuita. “A nossa missão é ajudar os negócios a ganharem escala, a chegarem mais longe e a terem acesso a ferramentas que, de outra forma, poderiam ser mais difíceis de alcançar sozinhos”, salientou.
“Dar continuidade ao projeto”
A candidatura, feita pela Câmara das Caldas da Rainha, ascendeu a 1.010.157,36 euros e resultou na aprovação de uma comparticipação de cerca de um milhão de euros.
O presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Vítor Marques, frisou que o concelho já se distingue pela qualidade e irreverência dos seus conceitos comerciais, destacando a contínua procura pela inovação. “Precisamos de aproveitar o digital para ganhar uma dimensão maior, que nos permita levar os nossos produtos e serviços para um público mais alargado”, acrescentou.
Vítor Marques também afirmou a intenção de “dar continuidade ao projeto para além do prazo do Plano de Recuperação e Resiliência”, destacando a importância do apoio estatal. “Esperamos que o Estado, através da Direção Geral das Atividades Económicas (DGAE), possa desenvolver apoios para estas iniciativas”, disse.
Relativamente ao investimento, o presidente da Câmara referiu que mais de um milhão de euros estão a ser investidos no território, com o objetivo de promover o crescimento dos negócios locais. “Acreditamos que este investimento permitirá uma multiplicação exponencial do valor dos negócios da nossa região”, afirmou, destacando a colaboração das associações e dos comerciantes, que têm vindo a crescer e a multiplicar-se no âmbito deste projeto.
Sérgio Félix, secretário Geral da AIRO, afirmou que se trata de um projeto pioneiro na região Oeste, que está “a caminho da digitalização”, considerando-o “um passo importante para a competitividade da região”. “Efetivamente, quer queiramos, quer não, a digitalização já é o presente e será, sem dúvida, o futuro. A integração dos serviços digitais no nosso comércio, seja na Praça da Fruta ou noutros produtos, será, de facto, indispensável”, revelou.
Integrar o digital com o comércio físico
Fábio Fernandes, da DGAE, destacou a importância de criar uma rede de bairros vivos, como está a acontecer nas Caldas da Rainha e em outros municípios. “O objetivo é dar competência aos responsáveis pelos negócios, independentemente da localização, para que possam divulgar e promover os seus produtos de forma eficaz”, referiu.
“A componente física é essencial e ninguém quer substituí-la, pois é ela que faz a diferença, especialmente em negócios onde a proximidade com o cliente é fundamental”, concluiu.