Numa sala repleta de pessoas, Renata Henriques, vegan e defensora de um estilo de vida sustentável, relatou e mostrou fotografias das suas experiências vividas ao longo da sua viagem. Enquanto viajava, pernoitava em casas de famílias, em troca de tarefas, ou montava a sua tenda em locais diversos. A jovem ciclista afirma que a sua bicicleta, “Alma”, lhe proporciona uma sensação de liberdade, permitindo-lhe utilizar vários meios de transporte, como autocarros, comboios, ferries e veleiros.
Ao longo do percurso, teve a oportunidade de admirar auroras boreais, observar baleias, ver cascatas e viver uma infinidade de momentos inesquecíveis. A sua próxima aventura é em junho, rumo à Austrália. A jovem procura sempre evitar o avião, preferindo alternativas de transporte mais ecológicas.
Renata Henriques era programadora, mas neste momento dedica-se à sua bicicleta porque quer aproveitar a vida para “estar em contacto com a natureza, ser livre e conhecer novas pessoas e culturas”.
Foi em 2021 que adquiriu a sua fiel companheira e atual bicicleta, polaca. Não é elétrica nem possui caraterísticas extraordinárias, mas sim uma estrutura simples adaptada que a leva a qualquer lugar do mundo.
Renata faz uso da plataforma Workaway. Através deste sistema, a jovem teve a oportunidade de ficar na casa de famílias locais, ajudando em várias tarefas, como cuidar de animais e até mesmo trabalhar em projetos de catering, enquanto explorava as diferentes culturas e paisagens da Europa.
Um dos seus objetivos é gastar o mínimo possível. “Tento não ultrapassar os dez euros diários”, relatou.
Nas palavras de Renata, a bicicleta oferece-lhe uma liberdade única. “A bicicleta permite-nos ir devagar, apreciar a natureza e interagir com as pessoas. Cada quilómetro é uma lição, não só geográfica, mas também muito humana”, afirmou.
Durante a sua jornada, Renata Henriques também teve momentos desafiantes, como quando teve que lidar com o mau tempo na Islândia, onde até a sua tenda foi levada pelo vento forte. Contudo, “esses momentos apenas fortaleceram o meu espírito aventureiro e a ligação com a natureza”.
As suas aventuras, além de envolverem longas distâncias de bicicleta, também refletem um estilo de vida em harmonia com a natureza e práticas de sustentabilidade que a jovem teve a oportunidade de viver de perto.
Durante a sua estadia numa das ilhas de Dinamarca, Renata Henriques ficou impressionada com os hábitos sustentáveis de uma família que conheceu. A mãe da casa utilizava fraldas reutilizáveis, e grande parte da alimentação da família era proveniente do seu próprio jardim, onde a jovem caldense teve a tarefa de plantar batatas e outros vegetais.
Na ilha, Renata Henriques também teve a oportunidade de experimentar bicicletas usadas por muitas famílias para transportar as crianças, um meio de transporte bastante curioso. “A bicicleta, que mais parecia um triciclo, é um desafio para manobrar, especialmente nas curvas, mas é amplamente utilizada para transportar crianças, fazer compras e até para viagens mais longas”, contou.
A aventureira partilhou igualmente que na Dinamarca, por exemplo, é comum que “as crianças durmam ao ar livre, mesmo em dias de chuva ou frio intenso, algo que é visto como uma forma de habituá-las ao clima rigoroso desde pequenas”. “As crianças são incentivadas a brincar livremente”, sendo esta uma caraterística da educação escandinava que a jovem achou particularmente interessante.
Outro exemplo que Renata destacou foi a prática comum em muitos supermercados, onde “os pais podem oferecer fruta gratuita aos filhos enquanto fazem as compras, incentivando uma alimentação saudável e mantendo as crianças ocupadas durante a experiência”.
O seu percurso também incluiu uma passagem por Copenhaga, que se tornou um ponto de partida estratégico para explorar outros países escandinavos, como Islândia, Ilhas Faroé, Noruega e Suécia.
Renata Henriques partilhou ainda várias curiosidades “sobre um dos países mais incríveis do mundo, a Islândia, onde a natureza tem uma beleza inigualável”.
Para a jovem a viagem não é apenas sobre os destinos, mas também sobre o caminho. “Cada interação, cada cidade, cada novo desafio na estrada é uma aprendizagem constante”, disse.
A sua jornada continua a ser uma inspiração para quem procura formas “mais sustentáveis de viajar e viver, além de uma oportunidade única de conhecer diferentes culturas e tradições de uma maneira profunda e pessoal”.
Mário Lino, coordenador do Museu de Ciclismo, que deu início à sessão, explicou a ligação especial de Renata Henriques com o museu. “Ela apareceu aqui um dia com a ideia de sair desta rua e pedalar por distâncias longas, explorando muito mais além. E, curiosamente, quando chegou ao destino, acabou por regressar exatamente a esta rua, ao Museu de Ciclismo”. “Foi daqui que partiu e foi aqui que voltou”, salientou.