Numa tertúlia dedicada à “Violência na Mulher”, que teve lugar no Espaço AbraçAr-te, na Mata de Porto Mouro (Santa Catarina), a 8 de março, Débora Alves, do Gabinete de Atendimento à Vítima de Violência Doméstica (GAVVD), deu alguns conselhos sobre como agir em certas situações.
A tertúlia realizou-se após a inauguração da exposição-instalação “A Verdade Dói”, que tem como objetivo principal sensibilizar a comunidade escolar para a violência exercida contra as mulheres.
Trata-se de uma versão local, do Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro (AERBP), no âmbito do Plano Nacional das Artes (PNA), de uma mostra criada pelo Museu do Calçado que conta as histórias reais de mulheres vítimas de violência.
A instalação consiste em várias cadeiras de madeira, cada uma com um cartaz onde é contada a história de uma vítima e, por baixo, um par de sapatos pintado de vermelho. A intenção é que exista interação entre os elementos expostos e quem visita a sala, levando-os a “calçar os sapatos” das vítimas.
Segundo Débora Alves, no âmbito do seu trabalho do GAVVD já ouviu relatos idênticos a todas as mensagens que aparecem nesta mostra. “Sabemos que são histórias que incomodam, mas é aquilo que tantas vezes ouvimos”, comentou. Só em janeiro deste ano foram assassinadas cinco mulheres por violência doméstica.
A técnica explicou que há vários tipos de violência doméstica e não apenas a física. “Temos a violência económica, sexual e psicológica, entre outras”, referiu.
Os sinais de alertas para que alguém possa estar a ser alvo de algum tipo de violência podem ser ténues, normalmente através de mudanças de comportamento, e as pessoas mais próximas devem estar atentas.
Muitas vezes, as vítimas aparecem com nódoas negras para os quais arranjam explicações sem muito sentido. “Podemos abordar a pessoa e tentar perceber o que se passa com ela”, mesmo que seja um colega de escola ou do trabalho.
Para quem está a ser alvo de algum género de violência, deve começar por contar a alguém com quem tenha confiança e criar mecanismos que possam alertar para situações em que o abusador possa ser apanhado em flagrante delito. Há códigos que podem ser definidos e que servem para que alguém chame as autoridades. Por exemplo, enviar uma mensagem à pessoa de confiança a dizer “não posso tomar café agora”,
“Quando quiserem dar um alerta, devem ligar sempre para o 112 e não para a PSP ou GNR, porque assim fica registada a chamada e há uma obrigação imediata em intervir”, aconselhou Débora Alves.
Escola é local privilegiado para envolver comunidade
A exposição e a tertúlia realizaram-se no âmbito das comemorações do Dia da Mulher, integrados nas atividades do PNA.
Segundo a professora Susana Silva, coordenadora do plano cultural do AERBP, os responsáveis da associação do Espaço AbraçAr-te convidaram a escola a apresentar este projeto no seu espaço, depois de ter estado patente na Escola Básica de Santa Catarina.
Susana Silva admitiu ter ficado surpreendida por estarem tantas pessoas presentes no evento. “Fico muito contente que tenham vindo homenagear a Mulher”, disse, no início da tertúlia.
Outra questão abordada na tertúlia foi a violência exercida às crianças e jovens, muitas vezes no seio familiar.
Ana Catarina Almeida, presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens das Caldas da Rainha, contou que, como professora, nunca tinha percebido que o problema tinha uma dimensão tão grande. Por isso, acha essencial que se realizem ações de esclarecimento e debates sobre o tema.
A inauguração da exposição contou com uma performance do Grupo de Teatro Comunitário da escola de Santa Catarina, inspirada no livro “Toda a ferida é uma beleza”, de Djaimilia Pereira de Almeida.