Foi no âmbito da Semana da Interculturalidade, promovida pela EAPN Portugal (Rede Europeia Anti-Pobreza) desde 2014, que o Município das Caldas da Rainha, através do CLAIM – Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes realizou a 2.ª edição do evento.
A iniciativa foi destinada aos utentes do CLAIM e à população imigrante do concelho. Pratos e, sobretudo, muitos doces tradicionais de cada um dos países representados, foram explicados e depois partilhados entre as dezenas de participantes.
O encontro foi animado com música, incluindo uma atuação de flauta por um participante francês, e contou ainda com um momento de malabarismo. Um dos momentos mais especiais foi a declamação de poemas por alunas estrangeiras da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, que deram voz à poesia da Rússia, Ucrânia e África do Sul.
Fernanda Santos, professora de Português e de Português Língua Não Materna na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, explicou que levou um grupo de alunos estrangeiros para participarem na iniciativa. “O objetivo foi sensibilizar a escola para a importância da integração. Temos muitos alunos estrangeiros e alguns precisam de diferentes níveis de apoio”, afirmou.
A professora, com uma década de experiência no ensino de Português Língua Não Materna, destacou a importância destas atividades para aproximar os alunos. “Demora um bocadinho a cativar os alunos para estas iniciativas. O meio e a disposição são diferentes, mas conseguimos trazer um grupo de dez estudantes, naturais da África do Sul, Rússia, Ucrânia, Venezuela, Peru, Colômbia e Filipinas”, relatou.
No evento, os jovens não só declamaram poemas, mas também explicaram o significado das suas bandeiras e dos pratos que trouxeram para partilhar. “Um aluno ia tocar guitarra, mas, à última hora, não conseguiu vir. Mesmo assim, os outros participaram ativamente e demonstraram grande interesse em partilhar um pouco das suas culturas”, revelou Fernanda Santos.
Na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro há um grupo de professores que trabalha na integração dos alunos estrangeiros. “Quando um aluno novo chega, chamamo-lo para uma entrevista para compreender a sua integração na escola e na sociedade. Se houver sinais de dificuldades, ajudamos e comunicamos ao diretor de turma para que certos temas sejam trabalhados em cidadania”, explicou a professora.
Apesar dos esforços, Fernanda Santos admite que a integração nem sempre é plena. “Por vezes, há turmas que não acolhem tão bem os colegas estrangeiros. Trabalhamos para suavizar essas situações e promover valores como a solidariedade, a integração e o convívio com a diferença”, referiu.
Iniciativas como esta são “fundamentais para fortalecer os laços entre diferentes culturas e promover um ambiente mais inclusivo e acolhedor”, salientou Fernanda Santos.
Interculturalidade à mesa
A iniciativa “O Pão Nosso de Cada Terra – Uma Viagem pelos Sabores” tem como principal objetivo promover a interculturalidade a nível local, valorizando o contacto entre diferentes culturas em condições de igualdade.
Apesar da forte adesão, ainda há espaço para maior representação de diferentes nacionalidades. “Não sabemos exatamente o número de nacionalidades existentes no concelho, mas no nosso serviço são acompanhadas pessoas de mais de trinta”, afirmou Marta Tempero, representante do CLAIM.
“Queremos continuar a realizar estes encontros, procurando sempre melhorar, realizar em diferentes espaços, ao ar livre, tornando-os mais acessíveis e apelativos para atrair mais nacionalidades”, adiantou. “Sentimos que ainda não conseguimos chegar a todas as comunidades e estamos a trabalhar nesse sentido”, manifestou.
Segundo Marta Tempero, atualmente, cerca de 600 agregados familiares acompanhados pelo serviço são de nacionalidade estrangeira.
Juliana Silva, natural de Angola, vive em Portugal há 14 anos, sendo residente nas Caldas da Rainha há sete. Quando chegou ao país, fixou-se em Lisboa, mais especificamente em Rio de Mouro, antes de se mudar para as Caldas, cidade pela qual nutre um carinho especial, apesar de a considerar mais tranquila quando aqui chegou.
Na primeira edição do evento participou apenas como visitante, mas nesta edição levou consigo um dos pratos mais emblemáticos da gastronomia angolana, a Moamba de Ginguba, confecionada com manteiga de amendoim e beringela, que contribui para engrossar o molho.
Nesta edição do “Pão Nosso de Cada Terra – Uma Viagem pelos Sabores” também Portugal esteve representado, destacando iguarias da páscoa, como a amêndoa e o folar, elementos tradicionais desta época festiva.
A terceira edição do evento está prevista para ainda este ano, com local a definir, prometendo continuar a celebrar a diversidade e a promover o diálogo intercultural através da gastronomia.