As eleições legislativas realizadas a 18 de maio resultaram numa vitória clara da Aliança Democrática (AD), coligação entre PSD e CDS-PP, que obteve 32,10% dos votos e elegeu 86 deputados (mais nove do que em 2024), consolidando-se como a força política mais votada a nível nacional.
O Partido Socialista (PS) e o Chega (mais dez) empataram em número de deputados, com 58 cada, embora o PS (menos dezanove) tenha uma ligeira vantagem percentual nos votos (23,38% contra 22,56%). Contudo, o resultado do círculo da emigração, ainda por apurar, pode alterar esta distribuição, pois em 2024 o Chega conquistou mais mandatos nesse círculo, podendo assim tornar-se a segunda força parlamentar.
Para além disso há que contar que nos Açores a coligação PSD/CDS-PP/PPM elegeu três deputados, enquanto o PS e o Chega elegeram um deputado cada. Assim, se a coligação vencedora nos Açores não divergir com a AD, apesar de só ali ter incluído o PPM, a AD poderá em teoria contar com mais três deputados.
Outros partidos com representação parlamentar são a Iniciativa Liberal (IL), que ficou em quarto lugar com 5,53% e nove deputados (mais um), o Livre (L), que cresceu de quatro para seis deputados com 4,20%, a CDU com 3,03% e três deputados (menos um), o Bloco de Esquerda (BE), que sofreu uma forte derrota caindo de cinco para apenas um deputado com 2% dos votos, e o PAN, com 1,36% e um deputado (manteve).
A grande novidade destas eleições foi a eleição do Juntos Pelo Povo (JPP), na Madeira, que conquistou um deputado, tornando-se o primeiro representante do partido madeirense no Parlamento nacional.
No círculo eleitoral de Leiria, que elegeu dez deputados, a AD manteve a liderança com 37,06% dos votos (98.243 votos), conseguindo cinco deputados (manteve). Venceu em 12 dos 16 municípios do distrito. O Chega ultrapassou o PS, tornando-se a segunda força política, com 23,07% dos votos (61.162 votos) e três deputados (mais um). O Chega foi o partido mais votado em três municípios tradicionalmente de esquerda – Marinha Grande, Nazaré e Peniche. O PS ficou em terceiro lugar com 18,98% (50.321 votos) e dois deputados (menos um). Venceu apenas em Castanheira de Pera.
Os deputados eleitos pelo círculo de Leiria foram, pela AD, Margarida Balseiro Lopes, Hugo Oliveira, Sofia Carreira, João Paulo Santos e Ricardo Carvalho. Pelo Chega foram eleitos Gabriel Mithá Ribeiro, Luís Paulo Fernandes e Cristina Vieira. Pelo PS foram eleitos Eurico Brilhante Dias e Catarina Louro.
A taxa de abstenção no distrito foi de 35,65%, ligeiramente superior à da eleição anterior em 2024 (33,63%).
Estas eleições refletem a consolidação da AD como principal força política nacional, mas também a ascensão significativa do Chega, que se posiciona como segunda força em vários círculos eleitorais, incluindo Leiria, ultrapassando o PS em locais onde este tradicionalmente tinha maior força. O PS sofreu uma perda significativa de deputados e votos, o que levou à demissão do seu secretário-geral, Pedro Nuno Santos.
“Agora ‘deixem o Luís trabalhar’”
Para o caldense Hugo Oliveira, eleito deputado, Luís Montenegro “sai claramente reforçado destas eleições, o que significa o reconhecimento de que em apenas onze meses já fez mais pelo país do que o PS em oito anos”.
“Os portugueses quiseram transmitir que confiam no Primeiro-Ministro, agora ‘deixem o Luís trabalhar’”, manifestou.
O social-democrata afirmou que no distrito “reforçámos a nossa votação, garantindo a eleição de cinco deputados, o que também espelha um reconhecimento do bom trabalho que os deputados do PSD efetuaram na defesa do distrito”. “Lembro também que o governo de Luís Montenegro fez mais pelo distrito neste curto tempo do que o PS em oito anos”, reforçou.
“Nas Caldas da Rainha fico muito contente e agradecido pelo apoio. Durante estes anos que estou como deputado julgo que as pessoas reconhecem que tenho defendido os interesses das Caldas com todas as minhas forças. Lembro por exemplo a questão da localização do Hospital, onde nunca me conformei e continuo e continuarei a lutar pelas Caldas. Mas também nos cuidados de saúde primários, nos apoios às associações, nas três elevações a vila que propus – Salir de Matos, Tornada e Salir do Porto – e que foram aprovadas, entre tantas outras coisas”, declarou Hugo Oliveira.
Em suma, “os resultados globais no país demonstram em primeiro lugar confiança no trabalho do Primeiro-Ministro, depois um cansaço do sistema que foi essencialmente dominado pela esquerda e que os eleitores desacreditaram”.
“A tendência de crescimento do Chega não acabou”
Gabriel Mithá Ribeiro, eleito deputado pelo Chega, apontou que “o país está a virar mais rapidamente à direita do que o previsto”.
No seu entender, os resultados do partido no distrito “confirmam uma tendência de crescimento contínuo desde 2019 e espelham uma transformação mais ampla a nível nacional”.
“É uma continuação, não acabou aqui. Todos os fenómenos sociais que explicam esse crescimento permanecem”, afirmou.
Segundo Gabriel Mithá Ribeiro, Leiria é hoje um distrito-chave na estratégia do partido. “Leiria é um distrito muito importante, porque o que se passou em Leiria, a inversão do peso relativo entre o Chega e o PS, reflete a transformação a nível nacional”, referiu.
O dirigente sublinhou ainda que os problemas que têm contribuído para o crescimento do partido não são exclusivos das grandes áreas metropolitanas. “Aquilo que são os problemas nacionais que têm feito o Chega crescer estão muito presentes em Leiria. Muitas vezes não queremos ver, achamos que são coisas de Lisboa e Porto, mas não são”, alertou.
Entre as preocupações destacadas no distrito, Gabriel Mithá Ribeiro apontou a saúde como prioridade. “Nós temos dado absoluta prioridade à questão da saúde no distrito: a falta de médicos de família, as urgências encerradas, mas também a necessidade de um novo hospital”, enumerou.
Outras preocupações mencionadas pelo reeleito deputado na Assembleia da República incluem a imigração ilegal, o agravamento da insegurança, a pressão fiscal sobre os empresários, o peso da burocracia, a defesa da identidade nacional e questões ligadas à educação. “Há uma série de aspetos que nós achamos que são nacionais, mas que são também do nosso distrito e que muitas vezes não assumimos, mas que explicam este crescimento”, referiu.
“Senti nas visitas que fizemos a escolas uma mudança da sensibilidade dos jovens contra os partidos tradicionais e a favor do Chega”, afirmou.
O deputado confessou ter ficado surpreendido com a possibilidade real de o Chega ultrapassar o PS a nível nacional, resultado que considerou uma “prenda de natal”.
Encarou os resultados como um forte sinal para o futuro do partido, sobretudo em vésperas das eleições autárquicas, e adiantou que “o Chega vai ter de preparar uma estratégia para consolidar a sua base autárquica, essencial para a sua afirmação a longo prazo”.
Deixou ainda uma nota final dedicada à imprensa local do distrito, à qual dirigiu elogios pela postura durante o recente período eleitoral. “Raramente sou contactado a nível nacional para todo o tipo de questões, e a nível do distrito sinto uma muito maior atitude de imparcialidade e neutralidade. Foi uma campanha em que nos trataram com o devido respeito. Não é a favor do Chega, é aquilo que compete aos órgãos de comunicação social numa democracia”, declarou.
“Cidadãos não reconheceram no PS uma alternativa clara”
A Federação do Partido Socialista de Leiria foi a única estrutura que no distrito, até ao fecho da nossa edição, enviou um comunicado sobre as eleições, comentando que “o recuo da esquerda democrática em Portugal exige uma reflexão séria e rápida”.
O resultado do Partido Socialista no distrito de Leiria, com a perda de um deputado e a descida para terceira força política, “não deve ser encarado apenas como um episódio local”. “Trata-se de um reflexo claro de uma tendência nacional — e europeia — que desafia a esquerda democrática e exige respostas urgentes”, afirmou a Federação, que felicitou a AD pela vitória alcançada no distrito e a nível nacional.
“Em democracia, o reconhecimento dos resultados e da vontade popular é um dever fundamental para quem acredita na força das instituições e no valor da participação cívica”, sustentou.
“Importa também reconhecer e valorizar o empenho, a seriedade e a entrega da lista de candidatos do PS por Leiria, que desenvolveram uma campanha de proximidade, com propostas claras e sentido de responsabilidade. O trabalho realizado ao longo dos últimos anos por vários dos seus representantes no Parlamento foi igualmente marcado por dedicação às causas do distrito”, vincou.
Para a Federação do PS, “muitos dos eleitores tradicionalmente socialistas optaram por não votar, e os cidadãos mais descontentes com a situação do país não reconheceram no PS uma alternativa clara e mobilizadora”. “Essa fratura deve ser lida com seriedade: não se trata apenas de perda de votos, mas da dificuldade de captar a confiança de quem exige mudança”, considerou.
“Ainda assim, a perda de protagonismo dos partidos socialistas e sociais-democratas é uma realidade em várias democracias, com o crescimento de forças populistas e conservadoras. Portugal começa agora a evidenciar os mesmos sinais, com especial incidência fora dos grandes centros urbanos, onde o distanciamento entre eleitos e eleitores se tem acentuado”, argumentou.
Em conclusão, para o PS, “o resultado de Leiria é, acima de tudo, um sinal. E pode ser o ponto de partida para uma nova atitude política: mais atenta aos territórios esquecidos e mais fiel à missão de proteger as pessoas”.