Não há dúvidas: o contexto pandémico alterou a forma como as pessoas se relacionam com a sua sexualidade.
Do alegado boom na procura de brinquedos sexuais ao crescimento da utilização de aplicações de dating, o comportamento das pessoas tem ultrapassado novas barreiras.
O que significa isto para a indústria dos brinquedos sexuais? Estaremos perante a chamada “era de ouro”?
Em entrevista ao EAN 2022, Pedro Correia, CEO da sexshop online em Portugal – Vibrolandia, partilhou a sua perspetiva sobre o cenário atual.
O que mudou nos últimos anos?
O clima de consumo no mercado dos brinquedos sexuais foi notavelmente aliciado pelo ambiente de isolamento que se viveu nos últimos anos. Em contacto direto com esta realidade, o CEO da Vibrolandia afirma que a sede de consumo é notável, principalmente em lojas físicas.
Em relação à “era dourada”, Correia confirma que a pandemia trouxe muitos novos consumidores, nomeadamente jovens e mulheres. Mantém, no entanto, um pé assente no ceticismo:
“Não sei que percentagem continuará a jogar neste mercado. Esperemos que muitos deles.”
O empresário atribui esta mudança de paradigma – e também de mentalidade – a duas causas: para além do efeito corona, o facto de os influenciadores terem começado a falar abertamente sobre brinquedos sexuais, abrindo as portas deste mundo para mais pessoas.
Vídeos informativos, sessões de esclarecimento e giveaways nas redes sociais são alguns exemplos de conteúdos que têm ajudado à normalização e desmistificação dos brinquedos sexuais.
Outra mudança que anota nos padrões de compra, é o facto de as mulheres terem começado a procurar brinquedos para si mesmas, em oposição a um passado em que era o homem a comprar brinquedos para si e para elas.
De mãos dadas com a crescente valorização do prazer feminino, esta é uma tendência que promete tornar-se norma.
Portugal está pronto para a revolução dos brinquedos sexuais?
Pedro Correia tem algumas dúvidas. “Os portugueses ainda não estão tão abertos a aceitar os brinquedos sexuais como, por exemplo, em Espanha”, partilha em entrevista.
Para chegarmos a esse patamar falta, especialmente, normalização. “A partir do momento em que as grandes lojas perderem a vergonha de vender este tipo de brinquedos, as pessoas também começarão a pensar que é normal utilizá-los. Mas continua a ser tabu.”, opina.
O CEO ressalva ainda a volatilidade do mercado português, que tão depressa pode estar em altas como pode sofrer quebras inesperadas.
Num país com um dos rendimentos médios mais baixos da Europa, “quaisquer alterações ou especulações no mercado provocam uma quebra de confiança e diminuem o consumo”, afirma.
O que procuram os portugueses numa sexshop online?
Também de tendências se faz o crescimento da indústria, e o contexto pandémico teve certamente um efeito estimulante sobre elas – seja no aumento da procura, seja no tipo de produto procurado.
O que procuram, então, os portugueses neste mercado?
Pedro Correia aponta a Satisfyer como um dos focos de procura mais recentes dos portugueses.
A marca, conhecida pelos estimuladores de clitóris que funcionam com tecnologia de sucção, parece estar a conquistar novos adeptos, mantendo um lugar sólido no top de vendas.
O CEO destaca ainda um dos brinquedos com mais procura, assim como os produtos com controlo à distância.
Acredita que o mercado dos brinquedos sexuais vai crescer, com uma predominância das vendas online.
Contudo, tem algumas dúvidas quanto aos vendedores que poderão vir a dominar o mercado.
“Os grandes mercados online estão cada vez mais a ganhar terreno, e as grandes cadeias começam a vender brinquedos sexuais, pelo menos os mais populares.”
Apesar de tudo, Pedro Correia crê que não deixará de existir espaço para lojas especializadas.
Afinal, oferecem uma maior variedade de produtos, um serviço especializado e um atendimento personalizado.
Se estamos já na era de ouro dos brinquedos sexuais? É provavelmente algo que vamos descobrir nos próximos anos.
Mas estamos, sem dúvida, a evoluir para uma era de maior liberdade e interesse nesta indústria.
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