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Uso de inteligência artificial não pode afetar humanismo na medicina

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) disse no passado dia 22, nas Caldas da Rainha, que a Inteligência Artificial (IA) na medicina tem sido uma área de crescimento significativo, oferecendo diversas aplicações promissoras em diagnóstico, tratamento e gestão de saúde.

Carlos Cortes não tem dúvidas que muitas das funções que os médicos neste momento desenvolvem “vão ser substituídas pela IA”. O responsável manifestou que é preciso encontrar caminhos para que “as novas tecnologias tenham o seu espaço na medicina”, mas é necessário que “a humanização da saúde nunca desapareça”.

O bastonário salientou que a IA veio para “ajudar os profissionais de saúde, mas não nos podemos distrair da relação médico-doente que é o pilar da profissão”.

A sessão, que decorreu na sede da sub-região do Oeste da OM, teve como objetivo a receção aos 17 novos médicos internos na Sub-Região Oeste. 

Foi feito um apelo aos internos que iniciam agora o caminho para que “nunca se esqueçam daquilo que é fundamental na profissão”. “Eu próprio adotei as novas tecnologias que me ajudam, mas aquilo que temos do outro lado é uma pessoa que tem as suas fragilidades e necessidades e que entrega a sua vida nas mãos de outra pessoa”, declarou.

Para o bastonário, o “conhecimento técnico científico é essencial”, mas a medicina “sem contacto humano irá afundar-se”.

Fim das cirurgias ao cancro da mama vai ser reanalisada

O bastonário disse aos novos internos, aos vários elementos da direção da Sub-Região do Oeste e restantes profissionais de saúde presentes na conferência, que reuniu de manhã com a nova ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e que “em cima da mesa esteve a teleconsulta e o regulamento sobre os comportamentos que os médicos têm que ter face a esta forma de fazer consultas e de se poderem ligar uns com os outros”.

Na primeira reunião formal com Ana Paula Martins, Carlos Cortes afirmou que falaram também da necessidade de haver uma “avaliação rigorosa” do modelo das Unidades Locais de Saúde (ULS), “Sei que a ULS do Oeste também está desarticulada e desajeitada”, contou, acrescentando que “mais uma vez a OM está na linha da frente para colaborar e ajudar a aprimorar esta reforma”. “Nós não queremos que ela volte atrás, mas queremos que haja correções em determinadas áreas”, adiantou, explicando que a OM tem já uma comissão a preparar um relatório com essa avaliação que conta entregar à ministra no final de maio.

Carlos Cortes recordou que os cuidados primários fizeram uma reforma muito importante “desde a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que foi a reforma dos cuidados subprimários adaptando-os às necessidades atuais das populações que são diferentes”.

Lamentou que os hospitais não tenham sabido fazer essa reforma e pediram à ministra que “tivesse sensibilidade e coragem para iniciar uma reforma hospitalar”. “Os hospitais funcionam hoje da mesma forma como funcionavam há 60 a 70 anos”, declarou.

Outro dos pontos que Carlos Cortes considerou prioritário é a “necessidade de existir mecanismos de atração e fixação dos médicos no SNS”.

Para o bastonário, o papel dos médicos no SNS tem que ser verdadeiramente reconhecido. Uma expressão que utilizou com a ministra foi “dignificação remuneratória”. “Não quis entrar em matérias sindicais que vão ter que ser negociadas, mas aquilo que disse como bastonário é que tem que haver vencimentos adaptados à elevada diferenciação e à enorme responsabilidade na prestação dos cuidados de saúde no SNS”, relatou.

Segundo este responsável, falaram também sobre as maternidades porque “o Nascer em Segurança não está a correm bem e a OM está a fazer um levantamento da situação de todas as maternidades do país para depois poder entregar um relatório à senhora ministra e temos aqui um plano alternativo a um que não está a funcionar”.

Carlos Cortes disse que a nível local abordou o fim das cirurgias ao cancro da mama nas Caldas da Rainha e que “essa medida vai ser reanalisada e a OM está a colaborar nesse propósito”.

O bastonário afirmou que já visitou o Centro Hospitalar do Oeste e esta “zona do país tem que ser urgentemente dotada de uma única unidade que possa responder às necessidades da população e isso é um fator de atração para novos profissionais de saúde”. 

O responsável disse que a reunião tinha corrido “muito bem” e que a tutela mostrou abertura “para colaborar com a OM”.

IA está a revolucionar os cuidados de saúde

O encontro teve como oradora Filipa Fixe, autora e coautora de várias publicações em jornais e em conferências internacionais nas áreas da bioeletrónica biomedicina, biotecnologia, educação e ehealth que trouxe a sua visão de que a IA está a revolucionar os cuidados de saúde e a gestão económica das unidades hospitalares. Falou dos desafios presentes e futuro para o setor da saúde.

Para Filipa Fixe, é “necessário que a infraestrutura tecnológica das instituições públicas e privadas seja reforçada e que a aposta em inovação e novos modelos de financiamento seja uma realidade na área da saúde”.

A especialista deu vários exemplos de aplicações de IA úteis para os médicos. Disse que um dos projetos que a Glintt está a desenvolver é, precisamente, um “dispositivo eletrónico que se cola à pele e faz a recolha de dados para que o médico possa monitorizar o doente em casa”.

O presidente do conselho regional do Sul da OM, Paulo Simões, revelou que este ano são os responsáveis pelo Congresso Nacional da OM e que o tema que elegeram é a IA, focada em alguns subtemas como o direito, o trabalho e a educação. No seu entender, “o futuro é que a “população seja tratada em casa e para isso acontecer vamos precisar de muita evolução e muita tecnologia”.  

António Curado, presidente do Conselho Sub-Regional do Oeste da OM, considerou que “podemos aproveitar todo o potencial da IA para melhorar os resultados de saúde e transformar a medicina para melhor”. Referiu que estava à espera da presença de mais jovens internistas. Presentes na conferência estiveram cinco dos novos médicos internos da Sub-Região do Oeste.