O Bloco de Esquerda promoveu no passado sábado nas Caldas da Rainha uma sessão aberta “Rumo ao I Fórum LGBTQI+”, onde a ativista e militante do partido, Fabíola Cardoso, sublinhou que o papel do BE “foi essencial para todo o movimento LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais e outras sexualidades e identidades de género), não controlando, mas sim participando nele”.
Na sessão, que decorreu no espaço Spacy, a antiga deputada Bloco de Esquerda na Assembleia da República começou por explicar que “o movimento LGBTQI+ não é uma estrada com um destino à vista, antes pelo contrário”. “As questões trans colocam novos desafios ao movimento, assim como as relacionadas com a educação sexual, o acesso à saúde e a precariedade no trabalho das comunidades LGBTQI+”, apontou a ativista, adiantando que “queremos ter coragem de discutir estes assuntos entre as novas ideias, e o BE quer contribuir para o movimento LGBTQI+ em Portugal”.
Além de ativista, Fabíola Cardoso também é cofundadora da única associação portuguesa vocacionada para a defesa dos direitos das lésbicas, o Clube Safo, em 1996, com intuito de “combater a invisibilidade e o silenciamento”, e ainda contribuir para “a possibilidade de criar uma identidade positiva”. “Quando eu nasci em Portugal ser homossexual era crime”, recordou a professora, adiantando que “algumas marcas desse ostracismo social continuam ainda ativas hoje em dia”.
Também lembrou que “durante muitos anos neste país houve uma esquerda que achava que o único problema era a luta de classes, tentando silenciar todas as outras formas de opressão”. “Uma esquerda, que tinha uma voz baixa e pequena sobre as desigualdades de género, que na sua própria estrutura não praticava o feminismo ativo”, disse a militante do BE, apontando para “uma esquerda, que não tinha uma palavra a dizer sobre o racismo estruturante que existia e continua a existir neste país, bem como um movimento que expulsava pessoas dos seus órgãos por serem gays”. Contudo, “o Bloco não foi essa esquerda, castrada que nega a diversidade da própria sexualidade humana”, afirmou.
Para Fabíola Cardoso, “o BE é essa esquerda que aceita que a nossa luta não é só uma luta de classes e enquanto não tivermos coragem para enfrentar isto e fazer esta luta, estamos a pactuar com essas opressões”.
Na opinião da ativista, “o Bloco foi essencial a todo o movimento LGBTQI+, não controlando, mas sim participando no movimento”, sobretudo no que diz respeito à revisão constitucional e à possibilidade de adoção. “A presença do partido no parlamento foi essencial para construirmos toda uma arquitetura legislativa, colocando Portugal como um dos países mais à frente, em termos de direitos”, indicou Fabíola Cardoso, destacando o papel das marchas LGBTI+ pelo país, que se “têm tornado mais ativas à medida que o movimento cresce”.
A antiga deputada do BE destacou que “as marchas são essenciais para aquilo que é o verdadeiro objetivo deste movimento, que é a mudança social”, e é também “uma bandeira contra o conservadorismo e extrema-direita, bem como pela liberdade e democracia do nosso país”. “Não é uma bandeira, que diz respeito só à comunidade LGBTI+ mas sim de todos aqueles que procuram uma liberdade plena na sua maneira de viver”, referiu Fabíola Cardoso, acrescentando que “o queremos verdadeiramente é uma mudança política da forma de organização da sociedade, sendo mais justa e plena, inclusive para aquelas pessoas que fazem parte do movimento”.
Para a ativista, “não basta mudar as leis. É preciso mudar de facto a sociedade, e nós somos essa esquerda, que não vê a causa como um adereço”.
Acompanhada de outros militantes do partido, Fabíola Cardoso destacou também a importância do Fórum LGBTQI+, que o Bloco de Esquerda e o grupo da Esquerda no Parlamento Europeu estão a organizar no Porto a 11 e 12 de fevereiro, sendo “um dos eventos mais importantes para o partido e para o movimento LGBTQI+ em Portugal, pois é uma oportunidade de todos continuarmos a construir este movimento”.