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Bloco de Esquerda quer voltar a eleger por Leiria para dar voz aos “invisíveis”

O Bloco de Esquerda (BE) quer voltar a eleger um deputado por Leiria, resultado que não conseguiu alcançar nas duas últimas eleições, “com prejuízo para grande parte da população que não está representada na Assembleia da República”, disse nas Caldas da Rainha Fernando Rosas, cabeça-de-lista pelo círculo de Leiria às eleições legislativas de 18 de maio.

Numa sessão pública na sede da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, no dia 30 de abril, subordinada ao tema “No Cinquentenário de Abril: corrida ao armamento ou direito à habitação?”, o candidato criticou duramente os partidos com assento parlamentar. “O PS, o PSD, a Iniciativa Liberal e o Chega representam empresários prósperos do distrito, construtores civis, empreiteiros e especuladores imobiliários, esses estão representados no Parlamento”, acusou.

Para Fernando Rosas, a maioria da população trabalhadora do distrito está politicamente invisível. “Os jovens do ensino politécnico, profissional e secundário, os seus interesses, as suas ambições, não estão representados. Os trabalhadores por turnos, os vidreiros, os trabalhadores da cerâmica, dos call centers, das grandes superfícies, a maioria dos funcionários públicos e quem vive do seu trabalho também não estão representados”, salientou.

O fundador do partido falou ainda do chamado “voto útil”, que considerou ser “absurdo e um erro e que contribui para perpetuar o sistema político dominante”. “É um voto que perpetua a atual governação do país. Um monopólio de poder exercido, há mais de 50 anos, por dois partidos que se vão alternando, mas que, no essencial, mantêm o mesmo rumo”, sublinhou.

Como exemplo desse falhanço político, Fernando Rosas apontou o drama habitacional. “A maioria absoluta do PS não resolveu o problema da habitação. Foi, aliás, o grande falhanço dessa maioria. E, neste momento, a habitação é talvez o problema social mais grave que o país enfrenta”, afirmou, sublinhando que as alternativas ao modelo vigente devem ser reforçadas e não descartadas como “votos perdidos”.

Na mesma sessão, Fernando Rosas defendeu que as “rendas devem ter um teto, ajustado às caraterísticas da habitação, ao seu tamanho e à localização”. “E as casas devolutas devem ser colocadas no mercado. Quando não o são, devem ser alvo de uma tributação agravada”, afirmou.

O candidato rejeitou as acusações de extremismo frequentemente dirigidas ao Bloco por propostas como estas. “É defender que um proprietário mantenha três casas fechadas à espera que os preços subam para especular? Ou é dizer que, se não coloca as casas no mercado, terá de pagar mais impostos sobre elas? Onde está realmente a injustiça?”, questionou.

“Somos um partido que quer impor os tetos às rendas e combater a desigualdade através de uma tributação justa, com impostos que devolvam riqueza à sociedade”, afirmou.

“Dizem-nos que os ricos, se não forem taxados, investem. Não é verdade. A maioria desses lucros vai para offshores, que ninguém controla nem fiscaliza. É preciso que haja intervenção pública, em nome do bem comum, para que esses lucros sejam canalizados, através de uma fiscalidade racional, para o desenvolvimento económico e para o bem-estar da população”, acrescentou.

Fernando Rosas criticou ainda o Governo, que, na sua opinião, não só não resolveu o problema da saúde, como o agravou. “Acelerou a degradação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), através de nomeações políticas para as administrações hospitalares e das portas escancaradas aos grandes grupos privados como a CUF ou o Lusíadas”, afirmou.

O candidato denunciou ainda situações concretas na região onde “muitas urgências hospitalares trabalham com profissionais pagos à hora, que ganham mais do que os trabalhadores efetivos do SNS. Isto é um sistema que está a desvalorizar os seus próprios quadros e a empurrá-los para fora”, disse.

Alertou igualmente para o que considera ser “um desastre ambiental em preparação” no distrito de Leiria, tema que, segundo o candidato, tem sido ignorado pelas forças políticas dominantes.

“Todos os principais cursos de água do distrito estão contaminados. O rio Lis, por exemplo, está poluído por descargas de queijeiras e outras indústrias, os afluentes do rio Tejo sofrem com a poluição das celuloses, a Lagoa de Óbidos continua sem ser devidamente drenada e as florestas estão abandonadas, à espera do próximo incêndio”, apontou.

A sessão, que foi moderada por Maria Manuela Pereira, da Comissão Coordenadora Distrital de Leiria do Bloco de Esquerda, contou com a intervenção de Marília Ribeiro, que está na lista do BE pelo distrito. Apelou ao voto “pela habitação pública e para baixar o preço das rendas”.

“A situação da habitação é também um problema real nas Caldas. Os preços das casas continuam a subir e cada vez menos pessoas conseguem aceder a uma habitação com condições dignas e preços compatíveis com os salários reais”, afirmou.

A candidata bloquista defendeu o “teto às rendas que é, provavelmente, a medida com impacto mais imediato que podemos tomar. É essencial travar esta escalada nos preços que está a excluir uma parte enorme da população do direito à habitação”.

 Estudante da ESAD.CR denuncia crise na habitação

Em representação dos estudantes das Caldas da Rainha, Oliver Andrade, aluno da Escola Superior de Artes e Design (ESAD.CR), denunciou as dificuldades vividas por grande parte dos colegas, sobretudo no acesso à habitação. “Sou de Sintra e a maioria dos meus colegas também são deslocados e o maior obstáculo, neste momento, é mesmo a habitação, porque é ela que permite ou impede que estejamos a estudar”, afirmou.

O jovem destacou que os preços dos quartos subiram de forma desproporcionada. “Conheço colegas que há cinco anos pagavam 80 euros por um quarto. Hoje, pagam 350, sem alternativa. Muitos arrendam através de grupos no Facebook, com contratos abusivos, casas degradadas, senhorios que entram sem aviso e até despejam sem justificação”, contou.

Segundo Oliver Andrade, as duas residências do Instituto Politécnico de Leiria nas Caldas estão encerradas, uma em obras, outra em processo de demolição para futura reconstrução. “Dizem que vão construir uma nova residência com mais camas, o que é ótimo, mas só daqui a uns anos. Agora, há 1500 estudantes e cerca de 80 camas disponíveis”, afirmou. “Quem tem contrato perde a bolsa”, adiantou.

A precariedade estende-se também ao ensino artístico. “A nossa escola nem sequer tem papelaria. Temos de comprar todos os materiais do nosso bolso, e são caros”, lamentou.

O estudante criticou ainda as barreiras colocadas à participação cultural e cívica dos alunos. “A maioria dos alunos que estudam da ESAD.CR quer fixar-se nas Caldas e fazer parte da cultura da cidade com a abertura de ateliês e promoção de eventos. Mas as licenças são caras e existem entraves da autarquia que tornam impossível usar espaços como o Céu de Vidro, que já foi muito utilizado por estudantes e agora está limitado a batizados”, declarou.

“E, na ESAD.CR, o desporto é inexistente. Seria essencial para criar laços e promover solidariedade entre estudantes”, concluiu.

 

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