A sessão teve início com o compositor Aurélien Lino, que apresentou ao piano uma estreia absoluta, uma peça original composta propositadamente para esta ocasião.
A cerimónia decorreu no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, cidade que deve à rainha a sua fundação e o desenvolvimento em torno do histórico Hospital Termal.
“É pela marca profunda que D. Leonor imprimiu a este lugar, nas Caldas que a Rainha fundou, que aqui nos encontramos hoje, e que esta cidade assumiu, com plena legitimidade, as comemorações dos 500 anos da sua morte”, afirmou a ministra, enaltecendo o papel do Município como anfitrião deste ciclo comemorativo.
Dalila Rodrigues destacou a importância de celebrar o legado da rainha D. Leonor, “uma das mais notáveis mulheres da história de Portugal”, cuja ação moldou profundamente o panorama cultural e social do país no início do Renascimento. Sublinhou que a figura da rainha se inscreve numa linhagem de mulheres cultas e influentes que, mesmo num contexto patriarcal, marcaram os destinos do país.
A ministra sublinhou o papel visionário de D. Leonor, não apenas como figura de poder político e fundadora de instituições de caridade, mas também como mecenas das artes, das letras e da imprensa em Portugal. Foi a impulsionadora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, modelo pioneiro de assistência social e deixou um legado cultural duradouro através do apoio a artistas como Gil Vicente e à edição de obras em língua portuguesa.
A governante defendeu ainda que a celebração de D. Leonor deve servir de ponto de partida para valorizar o papel da mulher na história da arte e do mecenato em Portugal, propondo o alargamento dessa investigação a outras figuras femininas marcantes.
“Honrar este legado exige mais do que memória. Exige ação, através da programação que agora se inicia e que se prolonga até novembro, mas também na proteção e divulgação do património que nos foi deixado”, afirmou.
O coordenador científico e pedagógico do programa, Nicolau Borges, explicou que o objetivo principal não é assinalar a morte de D. Leonor, mas celebrar a sua vida e o seu legado.
O historiador destacou ainda a dificuldade de reconstruir o percurso da rainha, dado que os cronistas da época se centravam maioritariamente em figuras masculinas. “É muito difícil conhecer a fundo a história de D. Leonor, porque os biógrafos de então escreviam sobre reis, não sobre rainhas. Todos os investigadores que têm estudado a sua figura identificam essa lacuna e denunciam essa dificuldade”, frisou.
Para Nicolau Borges, foi a personagem feminina mais importante da história de Portugal. Por muitas razões, que não vou enumerar agora, para não fazer spoiler do que será apresentado nos próximos meses, mas foi uma rainha, uma mulher, uma mecenas, e a fundadora daquilo que é hoje Caldas da Rainha. Soube ser política, soube ser gestora, administrava uma das maiores fortunas do país, talvez mesmo a maior, com os Duques de Beja”.
Nicolau Borges acredita que as várias iniciativas em curso em torno da sua memória constituem “uma excelente homenagem, e resultarão numa memória viva para o futuro”.
O presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Vitor Marques, destacou a rainha como “uma mulher notável, visionária, de rara compaixão e força de caráter”, que muito antes do seu tempo soube usar o poder para servir os mais desfavorecidos, fundando instituições e promovendo a educação e a cultura como motores de desenvolvimento.
O autarca deixou ainda um apelo direto à valorização do Hospital Termal, lembrando que este é “mais do que um edifício, é um símbolo vivo da nossa identidade e da preocupação com o bem-estar do povo”. “Que o espírito de humanidade, de visão e de serviço da rainha continue a ser a nossa bússola para construir uma cidade mais próspera, solidária e digna para as gerações futuras”, concluiu.
A vereadora da Cultura, Conceição Henriques, sublinhou que “a cidade deve à rainha a sua vocação para a hospitalidade, para a arte, para o pensamento livre e para o diálogo”. Vincou que a sua influência é tão grande que um lugar central da cidade, o Largo Conde Fontalva, poucos reconhecem pelo nome oficial, pois todos falam no “Largo da Rainha”.
Programa das comemorações
Conceição Henriques destacou que um dos pilares centrais do programa das comemorações é o ciclo de conferências académicas, que terá lugar maioritariamente no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha e contará com a presença de especialistas nas áreas da História e das Artes. “São conferências de especialidade, mensais, com exceção do mês de agosto, e cujo conteúdo pretendemos reunir posteriormente numa coletânea para memória futura”, explicou.
Outro eixo importante diz respeito às exposições, com destaque para uma mostra central organizada em colaboração com o Museu José Malhoa. “Esta exposição será um dos pontos altos do programa, prolongando-se para além de novembro, para permitir uma maior fruição por parte do público”, sublinhou.
No plano artístico, está também previsto um conjunto de criações nas áreas da música e do teatro, em parceria com o Teatro da Rainha, companhia residente no concelho. “A vertente cultural era essencial para espelhar o espírito de humanismo e sensibilidade artística que D. Leonor tão bem representou”, referiu.
Para garantir o registo duradouro das comemorações, será ainda feita a reedição alargada do “Livro do Compromisso” da Rainha, em articulação com o Teatro da Rainha e a Associação para o Estudo e Divulgação do Património Histórico.
O programa incluirá também um eixo mais lúdico e popular, com iniciativas ligadas à gastronomia da época da Rainha. “Vamos recriar sabores do tempo de D. Leonor, promovendo a vivência histórica de forma acessível e apelativa”, disse Conceição Henriques. A dimensão espiritual da fundadora da cidade será igualmente evocada com celebrações religiosas em locais simbólicos, como a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo.
“Estas comemorações são mais do que um olhar para o passado: são um convite à reflexão sobre o legado que nos foi deixado e à forma como continuamos a honrá-lo no presente”, concluiu.