Em declarações ao JORNAL DAS CALDAS, Marisa Rosa destacou o ambiente acolhedor da ilha, referindo ser “uma terra simples com uma riqueza enorme”, marcada por uma população “de sorriso fácil e atualmente em busca de mudanças na sua vida política”.
“Foram duas semanas recheadas de boas atividades, numa ilha sossegada que outrora foi bem movimentada”, afirmou a chefe de mesa.
A missão de Marisa Rosa, juntamente com um colega da Escola de Hotelaria e Turismo de Lamego, foi dar apoio na criação e orientação das competições gastronómicas.
O evento incluiu concursos de cozinha, bar e restaurante, com a participação de alunos e profissionais de cozinha locais, bem como workshops e palestras para fomentar a formação e o desenvolvimento dos participantes. “A nossa missão foi apoiar na criação e organização dos concursos gastronómicos e de bebidas, ligando-os aos produtos locais, como fizemos na EHTO com a Pera Rocha e Maçã de Alcobaça. Sugerimos a utilização de produtos como manga e papaia, abundantes na ilha, para workshops de aproveitamento alimentar”, afirmou Marisa Rosa.
Além disso, “partilhámos a ideia de promover concursos de pratos típicos da região, como o peixe ao sal, utilizando as salinas locais”.
“Promovemos um concurso de cozinha destinado aos responsáveis pelas cozinhas da ilha, além de concursos de bar e restaurante voltados para as escolas da província espalhadas pela ilha. O nosso papel foi fornecer apoio na organização e na formação necessária para a elaboração dessas semanas de atividades. Assumimos a responsabilidade de orientar e coordenar a parte prática das competições”, explicou.
Projeto envolveu trabalho preparatório
O projeto envolveu um trabalho preparatório de cerca de três meses, com reuniões online entre as equipas de Portugal e da Ilha de Moçambique para a elaboração do regulamento para os concursos.
Durante a sua estadia, verificaram as condições das instalações do IMPIM e ajudaram na aquisição de materiais em falta. A escola, que atualmente oferece cursos de Gestão, Canalização, Restaurante e bar, Construção Civil, Operações Hoteleiras e Gestão Financeira e Patrimonial, passará a oferecer também o curso de Gastronomia, com a nova cozinha pedagógica já equipada. “A escola está a passar por um processo de transformação. Apesar das obras em curso, a cozinha está bem montada”, adiantou.
Marisa Rosa destacou a importância deste tipo de parcerias que não só ajudam a desenvolver a “formação profissional na ilha, mas também promovem a integração de produtos locais em contextos gastronómicos mais amplos”.
“Naturalmente, há muitos aspetos que nos chocam, como a poluição e, possivelmente, a desorganização da vida local. Para se ter uma ideia, a ilha divide-se em duas áreas, a “cidade de pedra” que foi ocupada pelos portugueses, onde as casas seguem o estilo arquitetónico que tínhamos na metrópole, e “Macuti“, uma área mais pobre, de construção precária. Uma das informações que recebemos é que, se passássemos por “Macuti” por volta da meia-noite ou uma da manhã, veríamos muitas pessoas a dormir na rua, pois não têm espaço suficiente nas suas casas. Esta desorganização é uma questão que precisa ser revista. As autoridades locais estão a tentar incentivar a população a mudar-se para a zona continental, do outro lado da ponte que liga a ilha à província continental, mas esta é uma questão difícil de resolver”, relatou.
“Na ida, levava muitos receios, mas no regresso trouxe comigo a gratidão das pessoas com quem privei, mais uma cultura e a sensação de ter pisado uma terra com um sabor distante de Portugal, onde até as crianças de rua sabem contar que o primeiro português a chegar ali foi Vasco da Gama, em 1498, em troca de alguns meticais”.
Por toda a ilha, percebe-se uma constante tentativa de negócio, contou Marisa Costa, relatando que há sempre alguém a “tentar vender missangas ‘encontradas’ em barcos naufragados, oferecer viagens de barco, frutas frescas ou até visitas guiadas”. “Tudo parece normal, se pensarmos que este foi um local de grande importância mercantil no passado”, comentou.
Quanto à beleza da ilha, é “indescritível”. “O turismo, infelizmente, está a meio gás devido à instabilidade do país”, concluiu, agradecendo a “Jaime Miriel Mandlate e ao Abdul Machude Buana pelo acolhimento e hospitalidade que me ofereceram”.
A semana aberta IMPIM contemplou diversas atividades como workshops, showcooks, concurso de profissionais de cozinha, concurso de formandos de restaurante, concurso de estudantes de bar e anúncio dos vencedores.
Esta atividade enquadra-se na Componente Reforço Educativo e Formativo do Instituto Médio Politécnico da Ilha de Moçambique, em parceria com o Turismo de Portugal, do Cluster da Cooperação Portuguesa da Ilha de Moçambique.
Em outubro de 2021, a EHTO recebeu uma visita às suas instalações por parte de um grupo de professores e coordenadores do IMPIM.