A conciliação da relação trabalho-família e os mecanismos de recuperação disponíveis foi o assunto para mais uma sessão organizada pelo Conselho Sub-Regional do Oeste da Ordem dos Médicos, que teve lugar a 29 de fevereiro no Museu Leopoldo de Almeida, nas Caldas da Rainha.
Com o tema “Dilemas da vida de um médico”, esta sessão contou com uma alocução de Vânia Carvalho, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e doutorada em Psicologia dos Recursos Humanos, Trabalho e Organizações.
Membro do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade de Lisboa, Vânia Carvalho tem vindo a investigar sobre a área da interseção da vida profissional com a familiar, incluindo a gestão de fronteiras, design de trabalho e culturas de apoio organizacional para promover o bem-estar dos funcionários.
Embora esta sessão fosse dirigida aos médicos, a especialista sublinhou que esta é uma questão que interessa a todo o tipo de profissionais.
No entanto, há estudos que indicam que os médicos acabam por ser uma profissão com mais riscos, uma vez que trabalham muitas vezes em turnos longos, com horários muito diferentes e sempre com muita pressão. Algo que pode levar ao desenvolvimento de doenças do foro mental, principalmente ao nível do “burnout”.
Essa pode até ser uma das razões para que os médicos saiam do Serviço Nacional de Saúde e, por isso, seria importante que este tema fosse mais explorado por parte de quem toma decisões políticas em relação a este setor.
Na sessão, Vânia Carvalho incentivou os médicos a autodiagnosticarem-se e perceberem os sinais de alerta para situações negativas nesta relação entre o trabalho e a vida pessoal.
Apresentou ainda algumas estratégias “para que os profissionais possam tomar o controlo neste conflito entre o trabalho e a família”.
As estratégias de recuperação, que permitem “desligar do trabalho e ter uma vida mais saudável”, passam por mecanismos de transição, por exemplo na deslocação para casa no final do trabalho fazer um balanço desse dia e depois distrair a mente, como ler um livro (em transportes públicos) ou ouvir música.
“Devemos fazer um desligamento psicológico e não entrar em casa invadidos de toda a exigência emocional que trazemos com o stress do trabalho”, concluiu.
O ato de mudar de roupa quando se chega a casa também pode ajudar nessa transição. Existem ainda técnicas de relaxamento que podem ser utilizadas no dia-a-dia. As pessoas podem ainda focar-se em algo que lhes traga prazer e que lhes exija outro tipo de competências que não são usadas no trabalho, como pintar ou tocar um instrumento musical.