O Quiosque Bernardino, no topo da Praça da Fruta, funcionou durante quase meio século e em julho o proprietário entendeu ser a altura do negócio chegar ao fim, depois uma vida intensa de trabalho. O que não esperava era que a Câmara das Caldas da Rainha pretendesse que retirasse o quiosque do local. A autarquia justificou com a proximidade da Ermida de São Sebastião, considerada de interesse público nacional, e com a possibilidade de requalificar o espaço envolvente. Uma petição pública a favor da manutenção do quiosque pode entretanto ser assinada na internet.
No final de julho, o quiosque de Américo Bernardino, que era o mais antigo profissional desta área em atividade na cidade, fechou a porta de vez. Telmo Bernardino, um dos filhos, comentou na altura: “Passados cinquenta anos chegou ao fim. O quiosque que o meu pai escolheu para a sua vida, todos os dias das 06h30 às 20h00, à chuva, ao frio, às tempestades, à poluição dos autocarros, automóveis e motas, muitos assaltos e a correr risco de vida”.
“Muita gente ficará com muitas boas memórias. Dói o coração de ver fechado, mas acredito que em pouco tempo estará noutro conceito”, adiantou.
Esta semana, Telmo Bernardino transmitiu que o pai “recebeu um telefonema da parte do executivo da Câmara Municipal das Caldas da Rainha a informar que o Quiosque Bernardino tem de sair do sítio onde esteve”.
“Manda-se uma vida, uma história da cidade, ao lixo”, lamentou, sublinhando que “o Quiosque Bernardino faz parte da história da cidade, faz parte da história dos caldenses”.
Segundo o filho de Américo Bernardino existem “várias propostas para reabrir, inclusive, o meu pai gostava muito de aceitar que o quiosque ficasse para o clube da cidade, o nosso Caldas Sport Clube, para venda de bilhetes e merchandising do clube”.
“Peço a todos que não deixem o Quiosque Bernardino morrer”, apelou, tendo desenvolvido uma petição pública na internet a favor da manutenção, que em pouco tempo reuniu logo várias centenas de assinaturas e gerou uma onda de indignação em defesa do que é apontado como “um ícone” da cidade.
Tipógrafo durante muito anos, Américo Bernardino montou o seu primeiro quiosque de venda de livros, revistas e jornais numa pequena barraca de madeira uns metros mais abaixo da atual localização em 1976 e posteriormente numa estrutura em chapas de metal. Em janeiro de 1998, instalou o atual equipamento.
O executivo da Câmara Municipal revelou que, por unanimidade, em reunião realizada no dia 16 de outubro, um dia depois de Américo Bernardino ter completado 77 anos, deliberou notificar o proprietário que poderia retirar o equipamento e que caso o deseje, pode pronunciar-se por escrito no prazo de dez dias.
A decisão é justificada pela proximidade da Ermida de São Sebastião, construída no século XVI. “Destaca-se pelos seus magníficos painéis de azulejos setecentistas que a revestem no seu interior e está classificada como imóvel de interesse público nacional”, vinca a autarquia, que diz ter recebido algumas propostas para nova ocupação do quiosque, contudo, “da evidente necessidade de preservar este tão relevante património classificado situado na nossa cidade e de requalificar o espaço envolvente, resultou a deliberação camarária de não voltar a ocupar aquele local com qualquer equipamento ou serviço”.