Festejaram-se os 40 anos desta associação profissional, uma vez que a mesma foi formalmente fundada a 29 de novembro de 1984, quando onze gastrenterologistas de oito hospitais se juntaram em Caldas para dar corpo a uma associação pensada pelo antigo administrador do Centro Hospitalar nas Caldas da Rainha, Vasco Trancoso, médico gastrenterologista que se tinha radicado em Caldas em 1983.
Vasco Trancoso marcou presença na reunião na qualidade de presidente de honra. Durante a sessão de abertura destacou que, nos anos 80, o país testemunhou um desenvolvimento notável do Serviço Nacional de Saúde (SNS), impulsionado pela integração de numerosos médicos especializados nos hospitais distritais. “A gastrenterologia foi uma dessas especialidades e desempenhou um papel central nos momentos fundadores do NGHD, que, na minha opinião, se tornaram uma peça essencial na afirmação do SNS no terreno. Estas iniciativas acabaram por provocar mudanças fundamentais no panorama nacional da Gastrenterologia, como foi reconhecido durante a Reunião Nacional de 1988, em Coimbra, pelo professor Gouveia Monteiro, numa comunicação sobre a história desta valência em Portugal”, recordou.
Acrescentou ainda que, “neste momento menos auspicioso para o SNS, a atividade do NGHD assume, mais uma vez, um papel crucial na preservação de um SNS. A continuidade e o desenvolvimento dos Serviços de Gastrenterologia nos hospitais distritais, que abrangem cerca de 75% da população portuguesa, enfrentam hoje desafios em muitos aspetos semelhantes aos de há 40 anos”.
Hoje o NGHD “conta com a adesão de cerca de 300 gastrenterologistas, provenientes de 34 hospitais”.
António Curado, diretor do Serviço de Gastrenterologia da Unidade Local de Saúde do Oeste (ULS Oeste), que funciona no Hospital das Caldas, revelou que a dinamização dos serviços em hospitais de menor dimensão, uma preocupação que remonta a 40 anos atrás, continua a ser um dos grandes desafios atuais. “A falta de recursos humanos é preocupante. Estou perto da reforma e vejo que a situação se mantém crítica. Apesar de o serviço estar em vias de alargar as instalações, a carência de especialistas é evidente”, afirmou.
O Serviço de Gastrenterologia foi um dos beneficiados por candidaturas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que permitiram um investimento de cerca de 450 mil euros em equipamentos de endoscopia. Referiu ainda que o serviço está em vias de alargar as suas instalações, uma medida que considera essencial para melhorar as condições de trabalho e a qualidade do atendimento.
Contudo, o diretor alertou que “não basta investir em tecnologia. É imprescindível reforçar os recursos humanos e melhorar as instalações físicas”. Atualmente, o serviço conta com apenas quatro médicos do quadro e um médico prestador de serviços, número insuficiente para responder às necessidades de uma população de cerca de 300 mil habitantes. “Precisávamos de sete a oito gastrenterologistas, o dobro dos que temos agora”, lamentou.
Na sessão de abertura o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, fez um diagnóstico preocupante sobre o estado atual do SNS. “O SNS está a atravessar o momento mais difícil desde a sua criação, em 1979. O país já enfrentou muitas dificuldades, mas este momento é de grande preocupação”, afirmou.
Apesar do alerta, Carlos Cortes escolheu não adotar um tom pessimista. O bastonário aproveitou para destacar a importância dos vários juramentos de Hipócrates que decorrem em diferentes regiões do país. “Quero transmitir uma mensagem de esperança e de responsabilidade. Nós, médicos, carregamos nos nossos ombros a responsabilidade de cuidar e ajudar ao longo dos nossos dias de trabalho”, sublinhou.
Carlos Cortes alertou para os perigos do excesso de foco nas inovações tecnológicas. “Por vezes, distraímo-nos com as novas tecnologias, com a Inteligência Artificial. Estas ferramentas são muito importantes, mas não nos devemos deixar deslumbrar. O que verdadeiramente importa continua a ser os nossos doentes, as pessoas”, concluiu.
A Reunião NGHD foi precedida, a 28 de novembro, pelo 11º Curso Anual de Gastrenterologia e Endoscopia Digestiva para Enfermeiros, que contou com a presença de 150 participantes.
Esta sessão foi organizada pelos Serviços de Gastrenterologia de Caldas da Rainha e Castelo Branco e presidiram à sessão os diretores dos respetivos serviços (médicos António Curado e António Banhudo).