Carlos Cortes esteve presente na sessão de receção aos novos internos da sub-região do Oeste, que decorreu no dia 26 de fevereiro, na sede da OM Oeste, também com a presença do presidente do Conselho Regional do Sul, Paulo Simões.
Sobre a situação da ULSO, o bastonário revelou à imprensa no final da sessão que tem levado o dossiê da região a todas as reuniões com o Ministério da Saúde. “É daqueles pontos que eu levo sempre à reunião com a ministra. Esta questão do hospital é algo estratégico para o desenvolvimento dos cuidados de saúde na região”, afirmou Carlos Cortes.
O responsável sublinhou que a criação de um novo hospital na região é fundamental para melhorar a qualidade dos cuidados de saúde e para atrair mais médicos. “Enquanto não houver um novo hospital único para esta região, vai ser difícil captar mais médicos. Eles são necessários, porque fazem falta a esta região”, afirmou, explicando ainda que é crucial que o Oeste tenha uma resposta base de qualidade, com diferenciações nas áreas mais especializadas.
O bastonário também defendeu que, apesar de fatores como a remuneração serem importantes para a atração de profissionais, a principal questão está nas condições técnicas e infraestruturais. “Estas novas gerações precisam de condições técnicas, tecnológicas, de infraestruturas e de recursos humanos para abraçarem projetos. O Oeste, com o novo hospital, com novas instalações e com tecnologia adequada, pode ajudar a captar mais médicos”, destacou.
Quanto ao feedback recebido por parte do Ministério da Saúde, sobre o novo hospital, Carlos Cortes revelou que, embora tenha sido positivo, ainda não se traduz em ações concretas. “Eu não me contento com intenções, eu quero ver as coisas acontecerem e a verdade é que as coisas não aconteceram. Portanto, enquanto elas não acontecerem, a OM vai lutar afincadamente para esta situação ser resolvida na região”, frisou.
No entanto, alertou que a falta de decisão sobre a localização do novo hospital tem sido um fator que atrasa a construção. “Eu não me quero envolver nesta matéria, que é de decisão política. Eu só quero que, assim que a decisão seja tomada, que o hospital seja construído e que tenha condições para dar a resposta necessária à população”, afirmou.
Carlos Cortes referiu ainda que, muitas vezes, as divergências sobre a localização de um novo hospital são usadas como justificação para adiar o investimento. “Já vi isto acontecer em vários locais do país, onde estão há décadas à espera de um novo hospital, mas como não há um entendimento sobre a localização, os investimentos vão sendo adiados. No caso do Oeste, não temos uma nova unidade, que é necessária, e, por outro lado, não há investimento nas atuais unidades”, lamentou.
Segundo o bastonário, a falta de investimento nas infraestruturas existentes está a prejudicar ainda mais a região, uma vez que as obras de manutenção e reestruturação não são realizadas, à espera da construção do novo hospital. “O Oeste sai duplamente prejudicado: não há investimento nas atuais unidades e também não há um novo hospital”, disse.
A importância do humanismo
O bastonário da OM sublinhou a importância do humanismo na medicina durante a sessão de receção aos novos internos, com o tema “Desafios de Início de Carreira”. Destacou que “o bem-estar do doente, salvar a vida do doente, minimizar o seu sofrimento e participar no bem-estar das pessoas é o verdadeiro motivo da nossa profissão”.
Carlos Cortes também abordou o impacto da inteligência artificial, nomeadamente na medicina, sendo “precisamente o momento adequado para refletirmos sobre o nosso papel como portadores de humanismo nos cuidados de saúde”, declarou.
“Cuidados de saúde sem humanização não são verdadeiros cuidados de saúde”, salientou, reafirmando que o coração da profissão médica é a relação genuína entre médico e doente.
O bastonário apelou também à responsabilidade cívica e ética dos jovens médicos.
Em relação à crescente presença das novas tecnologias, Carlos Cortes afirmou que estas não podem substituir os aspetos fundamentais da medicina, como o “toque humano, o olhar, o ouvir, o aconchegar, o afeto e a empatia”.
Partilhou ter estado num evento “em que a secretária de Estado da Saúde colocou precisamente a proposta de que no futuro os farmacêuticos prescrevam diretamente algumas condições de saúde, como infeções ligeiras”.
“Quem pode atender um doente, quem pode fazer a descrição clínica, médica das doenças desse doente, quem pode fazer o diagnóstico e orientar a terapêutica, não pode ser outro profissional a não ser um médico”, afirmou, sublinhando que esta posição não é de proteção dos médicos, mas sim para garantir a segurança e a eficácia no cuidado ao doente.
Carlos Cortes fez questão de reconhecer o trabalho de outros profissionais de saúde, como enfermeiros, farmacêuticos, biólogos e nutricionistas, destacando que cada um deve atuar dentro das suas competências.
Citando o exemplo dado pela secretária de Estado da Saúde de uma infeção urinária, o Bastonário explicou que, embora muitas vezes seja simples de tratar, “uma infeção urinária pode esconder muita coisa, pode esconder uma infeção do rim”, que exige um diagnóstico adequado e especializado. “Os únicos capacitados para fazer o diagnóstico da patologia e acompanhar o doente são os médicos”, vincou.
Vocação para ser médico
A sessão iniciou com uma intervenção de António Curado, presidente do Conselho Sub-regional do Oeste, que abordou o tema das carreiras médicas. Durante a sua intervenção, o médico sublinhou que um médico deve ter “vocação e prazer naquilo que faz”. Destacou ainda que é essencial reforçar a identidade profissional dos médicos, para que se sintam aceites e reconhecidos na sua profissão.
Seguiram-se intervenções de três médicos jovens, que partilharam as suas experiências no início da carreira. Alexandre Santos, natural da Benedita, relatou o seu percurso profissional como interno na Finlândia, onde se especializou em Cirurgia. Atualmente, está a fazer doutoramento e, após um período fora, regressou a Portugal, onde está a colaborar no serviço de urgência do Hospital das Caldas.
Marlene Alves, médica de família e coordenadora da USF Santa Maria Benedita, fez uma apresentação sobre os cuidados de saúde primários, abordando a situação na região Oeste e os desafios específicos da área.
Felipe Damião, gastroenterologista, partilhou o seu testemunho sobre a experiência como jovem médico nos cuidados hospitalares, falando também sobre a sua atuação no Hospital das Caldas.
No final das intervenções, o presidente do Conselho Regional do Sul, comentou o testemunho de Alexandre Santos sobre a sua experiência na Finlândia, salientando que “a nossa realidade é completamente diferente” e expressando o desejo de que, no futuro, “as coisas fossem diferentes, tanto na pré-graduação como na pós-graduação, pois o método atual não é o ideal”.
Paulo Simões apontou que esta realidade se reflete em situações complicadas, como as que a OM tem enfrentado nos últimos tempos. “Muitas vezes, verificamos que o interno não está a ser bem tratado, nem a receber a formação adequada. Mas também não é possível recolocá-lo automaticamente noutra unidade até que as situações se normalizem”, sublinhou.
Para o responsável, esta é uma realidade que precisa ser modificada. “Temos que acreditar e eu vejo a OM como um porta-aviões que só consegue mudar o rumo lentamente. Não é possível mudar de um dia para o outro”, concluiu.
Em janeiro de 2025 entraram na ULS Oeste:19 médicos internos de formação geral (ficam 1 ano):10 médicos internos de formação específica hospitalar (2 de cirurgia geral; 2 de medicina interna; 2 de pediatria; 1 de ortopedia; 1 de pneumologia; 1 de ginecologia/obstetrícia; 1 de psiquiatria – 5 médicos internos de medicina geral e familiar.