Luís Lopes, de 52 anos, acusado pelo Ministério Público (MP) de homicídio qualificado e profanação de cadáver de Valdene Mendes, de 47 anos, de nacionalidade brasileira, a 27 de abril do ano passado, em Adão Lobo, no concelho do Cadaval, começou na passada segunda-feira a ser julgado no Tribunal de Loures, sede da Comarca de Lisboa Norte.
Segundo a agência Lusa, o arguido, confrontado com a acusação do MP, disse ao coletivo de juízes que “nem tudo o que lá está é verdade”. Garantiu que não matou o brasileiro na sua casa, explicando que ele consumiu estupefacientes e começou a vomitar, morrendo à sua frente por alegada “overdose”,
Admitiu ter esquartejado a vítima para se desfazer do corpo, para não vir a ser responsabilizado criminalmente.
Alegou que não conseguiu transportar o corpo para fora da sua casa, pelo que decidiu separá-lo em diversas partes, que meteu em sacos de plástico pretos e deixou em vários locais isolados com a ajuda de outra pessoa, que não quis identificar. Contudo, está arrolada como arguida uma mulher, de 48 anos, vizinha de Luís Lopes, que atualmente encontra-se em prisão preventiva na cadeia de Tires por alegadas agressões a um idoso.
A negação do crime de homicídio contraria as declarações que prestou em maio de 2023, após ter sido detido, quando assumiu à Polícia Judiciária e ao juiz de Instrução Criminal a autoria dos crimes, mostrando-se arrependido e apontando os locais para onde tinha atirado os sacos.
De acordo com a acusação, o arguido e a vítima conheceram-se em 2007 quando o suspeito o ajudou a tratar do processo de legalização em Portugal, tal como fazia com outras pessoas.
Luís Lopes pretendia manter um relacionamento amoroso com a vítima, que por se encontrar em “situação económica débil” pedia com frequência dinheiro ao arguido para pagar a pensão de alimentos das filhas, a prestação do empréstimo do seu veículo e despesas de alimentação, ameaçando afastar-se se não fosse ajudado.
Tendo em conta as pressões da vítima, descreve a acusação, o autor dos crimes “foi-se convencendo cada vez mais” de que estava próximo dele apenas para poder obter benefícios económicos”, até que, depois de o ter acolhido num quarto em casa, recusou ajudá-lo, o que terá levado a vítima a ofendê-lo, o que o deixou revoltado.
A acusação refere que o arguido muniu-se de uma marreta e, enquanto Valdene Mendes dormia, desferiu-lhe com força pelo menos três pancadas na cabeça, causando-lhe várias lesões e hemorragia cerebral e, por conseguinte, a morte do brasileiro, que chegou a residir nas Caldas da Rainha e no Bombarral, e trabalhou no talho de um hipermercado no Cadaval.
O arguido aproveitou a experiência adquirida no manuseamento de cadáveres quando foi coveiro no cemitério do Cadaval e esquartejou o corpo “para dele se desfazer de forma mais fácil” e colocou-o em sacos de plástico.
De madrugada transportou no seu veículo os vários sacos, atirou-os para diferentes locais isolados em espaços florestais nas redondezas e inclusive numa habitação em ruínas na própria aldeia onde morava, assim como escondeu num terreno parte do colchão manchado de sangue onde a vítima se encontrava a dormir.
Lavou a viatura, roupas, o chão e as paredes da casa, os móveis, as facas e o serrote que usou, para tentar esconder as provas do crime, só que numa zona de mato em Pero Moniz um popular descobriu um saco com parte de um corpo, atraído pelo cheiro nauseabundo devido ao avançado estado de decomposição. Alertada, a Polícia Judiciária começou a investigar o caso, encontrando depois mais sacos.
A existência de tatuagens em várias partes do corpo, uma das quais com referências à bandeira nacional do Brasil, permitiram às autoridades chegar à nacionalidade da vítima, que veio a ser identificada pelas impressões digitais, através de perícia efetuada pelo Laboratório de Polícia Científica.
A PJ deteve o suspeito, que, após ser presente a tribunal, ficou a aguardar julgamento em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Lisboa.
O julgamento continua a 8 de abril, às 09h15.