“Óbidos é um lugar tão português, mas ao mesmo tempo um lugar cosmopolita, onde se cruzam pessoas de todos os continentes”, comentou o responsável pela programação do evento.
“Este festival pretende celebrar essa realidade, pensar sobre ela, refletir, olhar, provocar ideias, não só com os livros, com a escrita e a leitura, mas também com outras atividades que também aconteceram, como exposições, concertos ou as idas dos escritores às escolas”, explicou.
O escritor salientou que a estratégia de descentralização do evento foi uma aposta ganha. “Tivemos, por exemplo, Gonçalo M. Tavares em A-dos-Negros, Bruno Vieira do Amaral na freguesia de Amoreira e Judite Canha Fernandes em Gaeiras”, descreveu.
“Faz sentido que esta descentralização continue, até mesmo pelas caraterísticas que o município tem”, disse.
Sobre a união entre literatura e viagens, José Luís Peixoto comentou que esta existe sempre. “Quando não é viagem literal, ela pode acontecer em múltiplas dimensões”, referiu. Por exemplo, num encontro com David Machado, sob o tema “Os Caminhos das Redes”, falou-se sobre “as viagens que todos fazemos nas redes sociais, na Internet, que são também espaços que habitamos e sobre os quais é importante que pensemos”.
Por isso, não foi por acaso que o novo “Clube Literário Visit Portugal” foi apresentado oficialmente durante o festival, numa cerimónia que decorreu, a 15 de fevereiro, na Praça da Criatividade.
Paula Ganhão, project manager do Turismo de Portugal, salientou que o objetivo do projeto é “proporcionar aos turistas uma experiência imersiva e colocar Portugal no mapa dos destinos literários”.
No âmbito deste clube estão previstas diversas atividades, como masterclasses, workshops, tertúlias, sessões de benchmarking, eventos de networking, visitas ao terreno e a eventos literários, além da criação de um clube do livro e a realização de um encontro nacional de turismo literário.
Também será lançado um website com uma oferta turística literária, que será ainda uma plataforma para preservar e valorizar o património literário de Portugal. Está prevista ainda a realização do 1º Encontro Nacional de Turismo Literário
O objetivo desta iniciativa visa qualificar a oferta turística, criar novas oportunidades de negócio, capacitar profissionais do setor e oferecer experiências turísticas literárias únicas e autênticas, facilitando o encontro entre pessoas e projetos, incentivando redes de contactos, inovação e colaboração entre profissionais da área.
O Clube Literário Visit Portugal começou por ser para os alunos do curso de Turismo Literário da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, mas está aberto a todos os interessados.
Na apresentação do clube, o diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste não escondeu a satisfação pelo “envolvimento” da comunidade educativa no curso de Turismo Literário, cuja quarta edição termina em março.
“Tem sido muito gratificante apreciar o trabalho desenvolvido por alunos e professores, com uma grande dose de criatividade. Sente-se no ar o espírito criativo”, referiu Daniel Pinto.
Perante uma plateia composta por alunos, professores e agentes do setor do turismo, a vereadora da Cultura, Margarida Reis, afirmou estar “muito satisfeita por termos aqui um novo momento ligado ao curso, com a criação deste Clube Literário, pois sentimos que há sempre a necessidade de conseguirmos fazer algo melhor e para todas as idades”.
A autarca destacou a criação de uma rede entre as cidades do Centro de Portugal que integram a Rede Cidade Criativa da UNESCO.
“Todos juntos somos mais fortes, porque cada cidade tem a sua caraterística. Apresentámos no Latitudes um mapa dos espaços literários de Óbidos que já estão identificados e desafiámos as outras cidades a mapearem os seus espaços”, disse a vereadora.
Programação em todo o concelho
Do festival fizeram parte também viagens pelo concelho. Logo no primeiro dia, 13 de fevereiro, o passeio teve início no Convento de São Miguel, nas Gaeiras, com primeira paragem a ser na Oficina da Semente e do Pão, um moinho recuperado pela Junta de Freguesia, onde os visitantes puderam apreciar como é feito o pão, pelas mãos de Fátima Sousa e Armando Conceição.
Os viajantes seguiram depois para a freguesia do Vau, onde os esperava uma recriação nos lavadouros de roupa com a participação de utentes do Centro de Apoio Social do Vau, a leitura do poema “As Lavadeiras” de Luísa Vicente, e ainda uma mesa com alguns produtos tradicionais para degustar.
Outro dos pontos altos do festival foi a presença de Isabel Werneck, secretária executiva do projeto Rio de Janeiro, Capital Mundial do Livro 2025. A responsável apresentou os contornos da candidatura ao galardão da UNESCO.
Isabel Werneck destacou a possibilidade que o município de Óbidos lhe proporcionou de falar pela primeira vez deste projeto em Portugal. “Fiquei muito surpresa pelo interesse e pela atitude nobre de estarmos muito juntos em nome da língua portuguesa”, afirmou a especialista de marketing,
Durante os quatro dias do festival, as centenas de visitantes tiveram a oportunidade de “viajar” no tempo e na história, nas várias conversas, lançamentos de livros e outros eventos que tiveram lugar.
“O Festival Latitudes está a crescer ano após ano e a consolidar-se como um espaço de partilha, de reflexão, e como um ponto de encontro entre escritores, autores e contadores de histórias e de vivências”, considerou Filipe Daniel, presidente da Câmara de Óbidos.
Na opinião do autarca, esta edição “mostrou-nos uma vez mais a importância da literatura e da leitura para explorar o mundo”.
A vereadora da Cultura realçou o reforço da vertente educativa e de formação para a leitura, “materializada através de encontros promovidos entre autores e contadores de histórias e alunos das escolas de Óbidos”, assim como a descentralização das conversas com escritores nas freguesias e “o investimento feito na diversificação de atividades para todos os públicos”.
A autarca sublinhou ainda a aposta da programação no Convento de São Miguel (Gaeiras), com vários workshops e peças de teatros, com atividades intergeracionais.
Em relação aos concertos, destaque para o concerto “Candlelight”, Igreja da Misericórdia, em que foram interpretados vários temas clássicos à luz de milhares de velas.
A banda Papercutz juntou-se à União Filarmónica de A-da-Gorda, para realizar um concerto, onde houve uma “viagem” entre a música clássica e a música eletrónica. Um projeto que resultou de uma residência criativa entre a banda do norte do país e a banda local de A-da-Gorda.