A vítima estava estendida no pátio da sua casa, tinha as mãos e os pés amarrados, a boca amordaçada e um saco de plástico na cabeça para o sufocar. Apresentava ainda marcas de agressão. Foi este o cenário encontrado pelos inspetores da Polícia Judiciária quando fizeram a recolha de vestígios para investigar o caso, ocorrido a 23 de novembro de 2020.
A população fica aliviada com a detenção do suspeito, Carlos Sousa, de 58 anos, e agora espera que seja feita justiça. “Foi um crime macabro e andava um assassino à solta. Fico muito aliviada porque a vítima era uma pessoa boa e de facto merece que se faça justiça, quatro anos depois, seja quando for”, manifestou Piedade Neto, que conhecia a vítima.
“Cheguei a perder a esperança de que viesse a ser encontrada a pessoa que matou o João Valentim, mas no fundo tinha confiança na nossa Polícia Judiciária e na altura ouvi dizer que havia muitos vestígios e atualmente há muitos meios de cruzar informação, nomeadamente o ADN. E parece que foi isso que aconteceu”, afirmou.
Carlos Coelho, dono de um talho a poucas dezenas de metros da casa onde o idoso foi assassinado, recordou que “ficámos todos chocados, porque o homem não fazia mal a ninguém, e na expetativa de um dia saber quem é que fez aquilo”.
O suspeito, que chegou a viver nas proximidades da vítima, foi residir para a zona de Lisboa após o homicídio em Alcobaça e foi detido no restaurante onde trabalhava, em Cascais, pelo Departamento de Investigação Criminal de Leiria da Polícia Judiciária, após um trabalho que “permitiu a recolha de um relevante acervo de prova, nomeadamente vestígios suscetíveis de tratamento e análise científica”.
A identificação do suspeito foi possível “em resultado da tecnicidade que pautou a realização dos exames no local e das perícias efetuadas pelo Laboratório de Polícia Científica da Polícia Judiciária, tendo sido produto de uma coincidência a nível internacional, com a colaboração do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses e das autoridades francesas, no âmbito da cooperação internacional”, uma vez que o suspeito “era já procurado pelas autoridades de França pela prática de um crime de roubo agravado, ocorrido em 2016”.
A duração prolongada da investigação sugere que a Polícia Judiciária foi meticulosa na sua abordagem, garantindo que fossem obtidas evidências sólidas antes de fazer a detenção.
Apesar da vítima ser uma pessoa humilde, com uma reforma de cerca de 300 euros mensais, ganhando ainda algum dinheiro com venda de ovos e galinhas, na origem da agressão terá estado o facto do suspeito “saber que o idoso guardava todo o seu dinheiro em casa”. Há relatos que anos antes tinha sofrido um assalto na habitação, numa altura em que estava ausente e até levaram uma arca com carne.
Vivia sozinho mas a casa situava-se numa zona de passagem numa das artérias principais da aldeia de Fervença, o que causou estupefação. Não havia memória deste tipo de crime na povoação e a junta de freguesia fez na altura um apelo à população idosa para estar vigilante, não abrir portas a estranhos e contactar a GNR em caso de suspeitas.
O detido foi presente a primeiro interrogatório judicial no Tribunal de Leiria e ficou em prisão preventiva.