A colaboração entre as duas entidades tem como objetivo mostrar no CCC novos trabalhos e exposições de artistas contemporâneos.
“Desde os primeiros contatos que pensámos em trazer para o CCC alguém que tivesse relação com Caldas da Rainha”, explicou Natxo Checa, diretor da ZDB, na cerimónia de inauguração da exposição, que vai estar patente até 30 de março.
Segundo o responsável, a escolha resultou de um longo debate para encontrar o que faria mais sentido a ZDB apresentar naquele local. Apesar de ter nascido em Leiria, em 1986, Tiago Batista estudou Artes Plásticas na então Escola Superior de Tecnologia, Gestão, Arte e Design das Caldas da Rainha (agora ESAD.CR), cidade onde viveu durante seis anos.
Tiago Baptista é artista residente na Associação Zé dos Bois em Lisboa desde 2010, tendo sido “descoberto” por Natxo Checa numa exposição de finalistas da escola superior de artes caldense. O galerista foi convidado na altura pela professora Isabel Baraona, mas tem regressado outros anos para poder ver os trabalhos dos finalistas.
A ZDB não tem fins lucrativos e gere um centro cultural no Bairro Alto, com produção de projetos individuais e onde se implementou um processo próprio, em que a criação decorre a par da curadoria, e que se destaca por potenciar meios de produção (que envolvem viagens, residências, livros ou filmes).
Natxo Checa considera que Lisboa “está saturada de um tipo de maneira de estar e de linguagem” na vida artística, e que a partir das Caldas, no início do século, “veio uma certa frescura”. Exemplo disso são artistas formados na ESAD.CR como Bunga, Pedro Barateiro e Hugo Canoilas, entre outros.
“Depois, houve uma espécie de banho-maria, mas agora renovou-se outra vez, pelo que tenho visto”, comentou Natxo Checa, que elogiou o dinamismo atual da escola caldense.
“Os ‘putos’ que têm saído das Caldas vêm uma ‘soltura’ que não têm nas Belas Artes em Lisboa”, afirmou.
O coletivo artístico Pizz Buin (formado por Rosa Baptista, Irene Loureiro, Vanda Madureira e Sara Santos) foi um dos movimentos artísticos oriundos das Caldas que Natxo Checa referiu.
Tiago Baptista atualmente vive e trabalha em Lisboa, mas gosta sempre de voltar às Caldas, até porque alguns amigos seus continuaram a viver na cidade. “Caldas continua a estar na minha memória e no meu coração”, referiu.
O ex-aluno da ESAD.CR salienta que nos últimos anos tem havido mais abertura para os artistas puderem expor as suas obras em espaços institucionais, como o CCC. Tiago Batista elogia ainda a maior atividade cultural na cidade.
Da Febre para a Febre Contínua
Esta mostra, com 21 obras, no CCC, vem na sequência da exposição intitulada apenas “Febre”, que esteve patente em 2021 na GZB. Essa exposição foi fruto de cerca de um ano e meio de residência acompanhada por Natxo Checa, que é também o curador da mostra, que deu origem ao conjunto de pinturas e desenhos apresentados.
Com novos trabalhos incluídos, passa a ser também um reflexo do diálogo permanente que o artista e o curador mantêm desde há vários anos.
Este período é associado pelo pintor ao estado febril, por ser na altura da pandemia da Covid-19, refletindo a representação de imagens que derivam, tornando-se entidades singulares, com caraterísticas e significações próprias construindo diversas narrativas individuais.
São evocadas várias referências com potencial pictórico, desde elementos gráficos da banda desenhada e da ilustração, assumidamente mais figurativos, e outros tendencialmente abstratos.
Há referências também à história da pintura ocidental, passando discretamente pela imagética ligada à navegação na internet e nas plataformas digitais.
Tiago Baptista convoca para estas pinturas um conjunto de referências prosaicas, mas outras também assumidamente espirituais e reflexivas.
A sua pintura é apresentada por João Silvério como “uma sequência de paisagens que nos confronta com imagens que detêm uma forte componente cinematográfica, no sentido em que cada pintura é como um momento de uma narrativa que se encontra num espectro de outras narrativas”.
O artista foi selecionado para o Prémio EDP Novos Artistas (2013) e galardoado com o Prémio Aquisição Amadeo de Souza-Cardoso (2015) e o Prémio Fidelidade Mundial Jovens Pintores (2009).
Expõe regularmente desde 2007 e o seu trabalho está representado em coleções da Câmara Municipal de Lisboa, Fundação EDP, Museu de Arte Contemporânea de Elvas, entre outras, não só em Portugal, mas também no estrangeiro.
Em 2018, José Vegar escrevia no Jornal de Negócios que “o pintor de Leiria é, provavelmente, um dos poucos casos no atual mercado nacional onde o investimento será seguro” e que tal se devia “à regularidade e consistência do seu trabalho”.