“Caldas da Rainha tem mais uma vila!”. Foi desta forma que a Câmara Municipal transmitiu a elevação de Tornada, que se junta às vilas de Santa Catarina, A-dos-Francos, Foz do Arelho, Salir do Porto e Salir de Matos.
A União de Freguesias de Tornada e Salir do Porto só foi informada na véspera da votação e revelou que irá preparar a celebração deste momento. “Não podemos deixar de agradecer a todos que contribuíram para que esta elevação fosse possível”, manifestou.
Este é o resultado dos projetos de lei n.ºs 189/XVI/1.ª (PSD) e 291/XVI/1.ª (PS).
A 18 de junho, os deputados social-democratas Hugo Oliveira, Telmo Faria, Sofia Carreira, João Santos, Ricardo Carvalho, Dulcineia Moura, Sónia Ramos, Carlos Santiago, Olga Freire, Jorge Oliveira, Luís Newton, Maurício Marques, Alberto Fonseca, Francisco Lopes, Salvador Malheiro, Silvério Regalado e Sónia Reis apresentaram os motivos de elevação a vila ao longo de um documento com sete páginas.
Começavam por caraterizar a povoação de Tornada. “O local era habitado quando da invasão romana da península Ibérica, situado na via que ligava Coimbra a Torres Vedras. Na Idade Média, tinha o nome de Cornaga, pertencendo ao termo de Óbidos, estando próxima do limite deste com os coutos de Alcobaça”, relataram.
Com a fundação do Hospital de Nossa Senhora do Pópulo pela Rainha D. Leonor, esposa de João II de Portugal, Tornada iniciaria o seu processo de aproximação a Caldas da Rainha.
O PSD recorda a lenda de que a Rainha D. Leonor vinha do seu castelo de Óbidos e ia para a Batalha encontrar-se com D. João II, seu marido. Passou por Caldas que nesse tempo, se chamava Caldas de Óbidos e viu umas pessoas que tomavam banho numas poças de água que “cheiravam mal”. As pessoas disseram que aquela água era milagrosa, porque curava. A Rainha, como tinha um problema de pele, tomou banho nela. Depois de tomar banho, seguiu o seu caminho. No fim de percorrer alguns quilómetros, parou e achou que se sentia melhor.
Uma das suas aias disse para ela tornar, voltar para trás, ao sítio onde tinha estado antes, para se banhar outra vez. E assim, ao local onde ela tornou ficou a chamar-se Tornada. Ali se mandou colocar uma coroa real.
O espaço do Paul de Tornada é também um argumento para mostrar a importância da povoação, como sublinharam os social-democratas.
Em meados do século XVI, Leonor de Avis, Rainha de Portugal, deixou em testamento ao hospital termal que fundou, as rendas de terras de que era possuidora situadas em Tornada, entre as quais o então designado Paul da Boa Vista do Extremo e hoje conhecido como Paul de Tornada.
Já no início do século XX, de acordo com antigos moradores da região, a área do Paul integrava uma vasta propriedade rural que, entre diversas culturas extensivas, aproveitava a área alagada para o plantio de arroz, chegando a empregar a mão-de-obra de mais de meio milhar de trabalhadores, nomeadamente mulheres, vindas de todo o país.
O tamanho e importância da propriedade agrícola podem ainda hoje ser avaliadas pelas edificações e pela antiga eira, bem preservada.
O Paul de Tornada constitui-se numa área de terrenos planos e baixos, com cerca de 45 hectares, 25 dos quais permanentemente alagados. Essas caraterísticas permitem incluí-lo na designação de “Zona Húmida”, de acordo com a Convenção sobre as Zonas Húmidas de Importância Internacional (Convenção de Ramsar). É dotado de flora e fauna de considerável importância, sobretudo no que diz respeito às aves.
É local de desova e crescimento de muitos peixes e anfíbios bem como local de alimentação para diversas espécies, com destaque para as aves migratórias. Nele já foram recenseadas 122 espécies de vertebrados, das quais 66 estão protegidas pela Convenção sobre a Vida Selvagem e os Habitats Naturais na Europa (Convenção de Berna). Dessas, 15 são espécies ameaçadas que constam no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, como por exemplo a lontra e o cágado-de-carapaça-estriada.
Ainda em termos históricos, é salientado que a expansão territorial dos coutos de Alcobaça para sul seria travada em Tornada, por sentença dada por D. Leonor em 1490.
Existia nessa época uma cultura florescente de linho para fins artesanais, comércio de cereais e vinha, extração de sal e madeira, além da construção naval. Toda essa produção era escoada pelo porto fluvial de Tornada.
Com a reforma administrativa do século XIX, a freguesia de Tornada passou a integrar o concelho de Caldas da Rainha em1835.
A proximidade da sede do concelho e a passagem pela povoação da estrada que liga Caldas da Rainha a Alcobaça, Nazaré, Leiria e ao norte de Portugal, e mais tarde da auto-estrada do Oeste (A8), originaram um significativo crescimento populacional e económico. Por esse motivo, é por vezes incluída, no todo ou em parte, na área urbana de Caldas da Rainha.
Tornada foi uma freguesia do concelho de Caldas da Rainha, com 19,7 quilómetros quadrados de área e 3561 habitantes (censos de 2011), originando uma densidade de 180,8 habitantes por quilómetro quadrado.
Em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, foi agregada com a freguesia de Salir do Porto, para formar uma nova freguesia denominada União das Freguesias de Tornada e Salir do Porto, da qual é a sede.
Os deputados do PSD vincam que Tornada “está servida por diversas infraestruturas sociais, educativas, de saúde, recreativas, culturais e desportivas”.
No campo das infraestruturas sociais e educativas, existe uma escola básica e um jardim de infância.
No domínio da saúde, Tornada dispõe de centro de saúde, laboratório de recolha de análises, farmácia e clínica dentária.
Comércio, restauração, Correios na Junta de Freguesia e Multibanco, são serviços disponíveis. O associativismo assegurado pelo Grupo Desportivo e Recreativo de Tornada, as atividades económicas diversas com empresas de venda de produtos para hotelaria, de transportes, de alumínios e carpintaria, de materiais de construção, de venda de automóveis, caravanas e tratores, recauchutagens, oficinas de reparação automóvel, viveiro de plantas, produtores de gado, fruticultores, ceramistas, entre outros, destacando-se uma das maiores empresas de rolamentos a nível internacional, são descritos na proposta do PSD, que indica ainda que a povoação dispõe de transporte público rodoviário, escolar e praça de táxis.
“Tornada possui rede pública de abastecimento de água, rede pública de drenagem de águas residuais, com uma estação com nível de tratamento secundário e rede pública de energia elétrica. Dispõe também de rede de fibra ótica das diversas operadoras nacionais e rede de telecomunicações. De referir ainda a existência de espaço de recolha de monos e de verdes e rede organizada de ecopontos distribuídos pela freguesia”, descrevem os social-democratas.
O projeto de lei do PSD sustentou estarem preenchidos os requisitos previstos para elevação da povoação de Tornada à categoria de vila.
O projeto de lei do PS
O projeto de lei apresentado no dia 26 de setembro pelo PS, através dos deputados Eurico Dias, Ana Antunes, Walter Chicharro e Pedro Alves, apresenta basicamente a mesma exposição de motivos defendida pelo PSD.
Os argumentos para Tornada ser vila passam por ser a sede da União das Freguesias de Tornada e Salir do Porto e também estar servida por diversas infraestruturas sociais, educativas, de saúde, recreativas e culturais e desportivas.
Lares e residências seniores, casa de repouso, o Centro Ecológico e Educativo do Paul de Tornada, a Unidade de Saúde Familiar de Tornada, várias escolas, farmácia, posto ATM e posto de correios, são alguns dos equipamentos existentes, indicam os socialistas.
Foi ao longo de um documento de seis páginas que os deputados do PS defenderam a elevação a vila. Lembram que Tornada foi uma freguesia do concelho de Caldas da Rainha, que, em 2013, no âmbito da reorganização administrativas das freguesias, foi inserida na União das Freguesias de Tornada e Salir do Porto, da qual é atualmente sede.
A localidade de Tornada inclui os aglomerados populacionais de Tornada, Campo, Chão da Parada, Reguengo da Parada, Casais dos Morgados, Mouraria, Casais do Rio do Peixe e Casais do Vau. É atravessada pelo rio de Tornada, que desagua na baía de São Martinho do Porto.
Pegando no mapa com o número de eleitores inscritos no recenseamento eleitoral, é referido que a União das Freguesias de Tornada e Salir do Porto conta com 3.921 eleitores, sendo que cerca de 3.000 residem em Tornada.
Caraterizando-a como estando “em franca expansão”, os socialistas sublinham que Tornada “está servida por diversas infraestruturas sociais, educativas, de saúde, recreativas, culturais e desportivas”.
No campo das infraestruturas sociais, a comunidade “está servida pela Associação Social e Cultural Paradense, lares e residências seniores, casa de repouso, Centro Ecológico e Educativo do Paúl de Tornada e União de Beneficiência do Campo”.
Quanto às infraestruturas educativas, é descrita a existência da “Escola básica e jardim de infância de Reguengo da Parada, Escola básica e jardim de infância do Chão da Parada, Escola básica e jardim de infância de Tornada, Jardim de infância do Campo e Escola básica do Campo”.
No domínio da saúde, a comunidade está servida pela Unidade de Saúde Familiar de Tornada, Farmácia de Tornada, laboratório de recolha de análises clínicas e clínica dentária”.
Quanto ao tecido associativo nos planos culturais, desportivo e recreativo, Tornada dispõe de “ATM, posto de correios, Associação de cultura e recreio do Campo, Associação Desportiva e Recreativa de Reguengo da Parada, Associação Social e Cultural Paradense e Grupo Desportivo e Recreativo da Tornada”.
No que concerne ao plano turístico e ao património cultural, os socialistas destacam o Centro Ecológico Educativo do Paul de Tornada – classificado como Sítio Ramsar desde 2001 e como Reserva Natural Local a 2 de julho de 2009, integrando a Rede Nacional de Áreas Protegidas.
Tal como os social-democratas, os socialistas destacam as atividades económicas, as redes de água, energia, telecomunicações, tratamento de águas residuais, recolha de monos e rede organizada de ecopontos, transporte público rodoviário, escolar e praça de táxis.
E como haviam também referido os deputados do PSD, indicam uma “diversificada gastronomia tradicional”, de que se destaca o bife de javali e o doce de manjar de Tornada.
“A elevação desta povoação de Tornada a vila constitui um enorme estímulo ao seu desenvolvimento sustentado, repercutindo-se ainda na captação de novos investimentos e na melhoria da qualidade de vida da população”, vincam os deputados do PS.