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Carta Arqueológica revela descobertas inéditas sobre o património local

A Caraca, acrónimo de “Carta Arqueológica das Caldas da Rainha”, foi apresentada publicamente a 15 de março, no Inatel da Foz do Arelho. Este documento reúne descobertas inéditas sobre o vasto património do concelho, abrangendo os domínios arqueológico, histórico, etnográfico, industrial, militar e religioso.

Resultado de um estudo desenvolvido entre 2017 e 2021 por uma equipa interdisciplinar do Laboratório de Arqueologia e Conservação do Património Arqueológico Subaquático, do Instituto Politécnico de Tomar, a Caraca surgiu no âmbito de um protocolo estabelecido entre esta instituição, a Câmara Municipal das Caldas da Rainha e a Associação CAA Portugal. A carta contempla o levantamento de vestígios arqueológicos terrestres e subaquáticos do concelho, desde a pré-história até à época contemporânea.

Em 2023, foi publicado um e-book, seguido da edição de 150 exemplares do livro físico, onde se documentam os vestígios arqueológicos identificados ao longo do estudo.

Quando os trabalhos tiveram início, em 2017, existiam poucos dados sistematizados. A equipa multidisciplinar desenvolveu um trabalho abrangente, que incluiu a pesquisa de fontes, prospeções e confirmações em campo, entrevistas, publicações, apresentações, workshops e eventos, contribuindo assim para um conhecimento mais aprofundado e acessível do património das Caldas da Rainha.

 

Um projeto de investigação abrangente

 

“Não existindo nenhum trabalho semelhante até à data, o projeto Caraca apresenta-se como uma solução para salvaguardar e valorizar o património, contribuindo para a valorização da identidade das populações que através do tempo se fixaram na área do concelho e que deixaram a sua marca num vasto património que importa recolher, interpretar e divulgar”, disse a arqueóloga do Instituto Politécnico de Tomar  e coordenadora do estudo, Alexandra Figueiredo.

“Entre o que se conhecia no início do projeto e o resultado do mesmo houve um incremento de 250% de património arqueológico e mais de 1000% de outro património histórico e etnográfico”, revelou.

De acordo com Alexandra Figueiredo, o concelho das Caldas tem uma “longa história, que não se inicia com a passagem da Rainha no tempo dos monarcas, nem com todas as estruturas que advieram associadas às Termas e seu Hospital”. “O território foi ocupado desde o paleolítico inferior, fazendo recuar o nosso olhar para mais de cem mil anos. A nossa memória retrata uma vivência de poucos séculos, mas os vestígios que Caldas da Rainha possui são provas concretas da sua importância num passado mais longínquo, que também é importante recuperar”, frisou.

 

Novas descobertas no concelho

 

A coordenadora do estudo revelou que as investigações na região de Caldas da Rainha continuam a produzir novas descobertas. “Não é um trabalho terminado. Se continuarmos a insistir, vamos obter mais dados”, afirmou a especialista, sublinhando que cada visita às Caldas traz novas surpresas.

Um dos achados mais recentes foi identificado em Alvorninha, onde foram descobertas pegadas que podem pertencer a um antílope ou um veado, registadas numa duna compacta que os investigadores acreditam pertencer ao Plistocénico. “Estamos a falar do período anterior ao Holoceno, que é a época interglaciária em que atualmente vivemos e que tem de ser estudada”, explicou.

A arqueóloga destacou que a equipa não esperava encontrar estas pegadas e, dada a sua natureza paleontológica, será necessário colaborar com especialistas desta área. “Aquelas dunas foram formadas quando o vale tifónico estava submerso, e ali ficaram gravadas pegadas de animais que passaram. Podem existir mais vestígios semelhantes na região”, contou.

Outra descoberta significativa ocorreu na zona do Nadadouro, junto à Lagoa de Óbidos. Aí, foi encontrada uma gravura com um símbolo da Ordem de Cristo associada a uma pequena estrutura, que os investigadores acreditam tratar-se de um edifício religioso. “Esta estrutura está conectada a uma rocha com gravuras mais antigas, nomeadamente a representação de uma figura feminina conhecida como “a boneca” ou “a gorda”. Trata-se de uma figura com ventre saliente, seios volumosos e um rosto gravado, possivelmente numa época mais antiga”, detalhou a arqueóloga.

O estado de conservação deste local preocupa os investigadores, uma vez que as alterações climáticas estão a causar erosão na rocha de arenito. “O rochedo fazia parte de uma duna antiga, mas está a degradar-se. Parte da rocha já está fraturada e outra parte caiu. Fotografias da carta arqueológica mostram que em 2019 a rocha estava intacta, mas, seis anos depois, são visíveis as alterações”, referiu.

A inscrição da cruz da Ordem de Cristo levanta questões sobre a importância histórica do local. “Convém perceber porque foi feita ali essa gravação, que função teria essa estrutura e se estava relacionada com os Descobrimentos, dado o acesso à costa a partir da Lagoa”, apontou a coordenadora do projeto.

Estas são algumas das mais recentes descobertas na região, que continuam a evidenciar a riqueza arqueológica e paleontológica do território, “reforçando a necessidade de mais estudos e medidas de preservação”.

Adolfo Silveira, da Universidade Autónoma de Lisboa, que também coordenou o estudo, disse que com a Caraca é possível criar roteiros.

 

Preservação e valorização do território

 

A sessão promoveu um debate enriquecedor sobre o documento, destacando a sua relevância para a preservação do património local. O empresário Miguel Castro, que promove passeios turísticos na Lagoa de Óbidos, sugeriu a criação de um canal de comunicação com a autarquia, permitindo que qualquer pessoa que encontre vestígios arqueológicos importantes possa reportá-los e entregá-los de forma eficiente.

A vereadora Conceição Henriques sublinhou a importância da Carta Arqueológica na salvaguarda da identidade e do património histórico do concelho. Destacou ainda que este documento é fundamental para o planeamento estratégico do território, garantindo a proteção e valorização dos sítios que necessitam de ser preservados.

Em resposta à sugestão de Miguel Castro, a autarca anunciou que o Município está prestes a lançar um novo site, que poderá incluir um canal direto de comunicação com a população para facilitar esse processo.

O vice-presidente da Câmara de Caldas da Rainha, Joaquim Beato, sublinhou que este é um instrumento “fundamental para o desenvolvimento sustentável do concelho e para a definição das suas políticas de ordenamento do território”, indicando que o trabalho de atualização do documento continuará.

Acrescentou ainda que o plano “vai integrar  os estudos de caraterização e toda a documentação que compõe o Plano Diretor Municipal (PDM) de Caldas da Rainha, garantindo a salvaguarda, o estudo, a valorização e a proteção da memória e identidade do concelho”. Além disso, revelou que o documento estará disponível no Geoportal, uma ferramenta que apoia os cidadãos na área da informação geográfica.

O presidente da Câmara, Vitor Marques, reforçou a importância da história local, afirmando que “é a nossa história que nos diferencia”. Destacou ainda que “quando há articulação entre a academia, a cidadania e a política, tudo tem condições para acontecer”. Segundo o autarca, é essencial criar condições para que as equipas municipais possam estruturar um modelo de gestão que funcione no futuro, independentemente de quem estiver à frente do Município.

A apresentação contou ainda com as intervenções de Cláudio Monteiro, da CAA Portugal, e José Antunes, da Unidade de Cultura da Câmara Municipal das Caldas da Rainha.

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