Sob o mote “as mortes podiam ser evitadas com uma população fisicamente ativa”, o plano define os objetivos e prioridades estratégicas para a promoção da prática desportiva no concelho, onde estão ativas 43 associações desportivas (22 com atletas federados) e investiu em 2023 no setor do desporto 2,37 milhões de euros (6,44% do orçamento).
“Para obtermos os melhores resultados, é fundamental desenvolver planos de ação que integrem a voz da nossa comunidade e a participação de vários stakeholders do desporto porque é um pilar essencial para a qualidade de vida no nosso território, e queremos continuar a impulsionar o seu crescimento”, afirmou o presidente da Câmara Municipal, Vítor Marques, no encontro realizado a 20 de março, no auditório da Expoeste, perante representantes dos movimentos associativos e desportivos do concelho.
“Este documento é um marco na nossa missão de tornar a população mais ativa e saudável”, salientou o autarca.
O documento, aprovado em fevereiro na Assembleia Municipal, define as metas a atingir até 2030 e as prioridades da autarquia que, segundo o presidente, “vai candidatar-se a Cidade Europeia do Desporto, em 2028”.
Foi o coordenador do plano, Tiago Sousa, Ceo da Fullback – Sports Management & Innovation, que apresentou o Plano Estratégico, revelando que o estudo envolveu diversas entidades e especialistas para garantir uma abordagem abrangente e eficaz.
O principal mote deste plano surgiu de um documento da Organização Mundial da Saúde que indica que entre 4 a 5 milhões de mortes poderiam ser evitadas anualmente com uma população mais ativa fisicamente. “Porquê investir no desporto?”, questiona Tiago Sousa, sublinhando que, para além da saúde e bem-estar, o desporto impulsiona a economia local, fortalece a coesão social, promove a diplomacia e fomenta a igualdade de género e de oportunidades.
O estudo iniciou-se em março de 2023 com um inquérito à população e uma consulta ao movimento associativo, onde foram recolhidos contributos de especialistas ligados ao ensino superior, federações, associações desportivas distritais e presidentes das juntas.
Os dados analisados revelam que aproximadamente 43% da população está ativa fisicamente, um valor que, embora superior à média nacional, ainda está abaixo da média europeia de 55%. “A meta para 2030 é inverter, tornando 60% da população ativa”, revelou Tiago Sousa.
Segundo o responsável pelo estudo, o concelho conta com 2.596 atletas federados, sendo o futebol a modalidade com maior número de praticantes (882). Seguem-se o futsal (276), basquetebol (184), voleibol (162), natação (136), kempo (126), badminton (105), rugby (90), ténis (82), triatlo (67), ciclismo (65), ginástica (62), atletismo (57), xadrez (55), entre outros.
As prioridades são este ano melhorar o Skatepark e edifício de apoio, até 2026 reabilitar o complexo desportivo do Campo e a zona do Campo Luís Duarte. Até 2027 o Município pretende criar uma instalação desportiva inovadora de interior para jovens e famílias, melhorar as condições do Centro Náutico da Foz do Arelho, criar uma miniestrutura de desportos náuticos na barragem de Alvorninha, apoiar a reabilitação de instalações desportivas, como o Complexo Desportivo de Tiro, o Dojo, entre outros, e garantir que as instalações desportivas municipais estão conforme os requisitos legais.
O plano prevê também aumentar o número de percursos pedestres e cicláveis. Até 2027 implementar 7 percursos pedestres, 3 de cycling (BTT) e 3 de Trail Running.
Define, entre outros, objetivos estratégicos como a criação, no Centro de Alto Rendimento de Badminton, de um laboratório de desporto, onde vários clubes possam melhorar a performance dos seus atletas e posicionar o concelho e as suas termas como destino de turismo desportivo de prevenção e recuperação de lesões de atletas, no âmbito de um projeto a implementar no Hospital Termal, até 2028.
As medidas a incrementar passam ainda por dinamizar na Mata um parque de arborismo, criar dois parques ativos na cidade e desenvolver projetos estruturantes, ligados a diferentes modalidades, nas freguesias rurais.
São igualmente definidas iniciativas de inclusão social através do desporto regular para pessoas com deficiência, imigrantes e pessoas com dificuldades socioeconómicas, bem como para o fomento da atividade física junto da população mais idosa.
“Requalificação das infraestruturas desportivas é prioridade”
Manuel Nunes, presidente da direção da Associação de Futebol de Leiria, esteve presente na sessão e destacou a necessidade urgente de melhorar as condições das instalações desportivas, fundamentais para acompanhar o crescimento do desporto no concelho. “A primeira prioridade tem de ser as infraestruturas. Precisamos de melhores e mais condições para a prática desportiva, que está em crescimento”, afirmou.
O dirigente referiu também que muitas infraestruturas desportivas não estão licenciadas. “Foi aprovado um decreto-lei que estabelece um prazo até 2027 para que os clubes regularizem a sua situação e fiquem enquadrados legalmente”, salientou. “Sem instalações licenciadas, não há possibilidade de obter apoios financeiros”, alertou Manuel Nunes.
Por outro lado, destacou a importância de assegurar financiamento para as coletividades. “O financiamento dos clubes não pode depender apenas deles próprios. É fundamental que exista uma rubrica específica para apoiar estas entidades”, defendeu.
O presidente da Associação de Futebol de Leiria também chamou a atenção para os elevados custos dos seguros no desporto federado, um dos principais entraves à inscrição de atletas. “Hoje em dia, o grande problema das inscrições no desporto federado são os seguros, cujos valores são exorbitantes. Como é que este plano pode resolver o problema e permitir o aumento do número de praticantes?”, questionou.
Sobre o Centro de Alto Rendimento de Badminton, Manuel Nunes defendeu que é necessário complementar o espaço. “Está ali um ótimo complexo desportivo que tem de ser desenvolvido com dormida, fisioterapia e nutrição e dormida. Tem todas as condições para se tornar num Centro de Avaliação Médico-Físico-Desportivo”, sublinhou.
Em relação à Foz do Arelho, o dirigente lamentou a falta de clubes dedicados aos desportos náuticos. “Faz falta pelo menos um ou dois clubes para desenvolver várias atividades nesta área”, vincou.
Além disso, destacou a necessidade de melhorar a iluminação na zona para permitir a realização de eventos desportivos à noite. “A Foz do Arelho já chegou a ter luz para receber eventos, mas agora está deserta. É essencial reforçar a iluminação para trazer mais dinâmica ao local”, salientou.
Vitor Marques referiu que uma das apostas recentes é a dinamização dos desportos náuticos na Lagoa de Óbidos. “Estamos a dar o arranque e queremos que depois alguém agarre este projeto, seja uma associação ou um movimento desportivo, porque há capacidade para isso”, afirmou.
O impacto do desporto na economia local também foi realçado, com a crescente procura de investimentos na área da hotelaria para dar suporte ao turismo desportivo. “Temos hoje entidades interessadas na construção de unidades hoteleiras para apoiar o desporto. Aquilo que nós oferecemos aqui é único”, garantiu Vítor Marques.
O Município tem vindo a reforçar o apoio às associações desportivas e culturais, tanto ao nível da formação como do financiamento. “Os dirigentes das associações fazem um trabalho difícil e notável, e estamos a investir na sua formação”, destacou.
No que toca ao licenciamento das associações, Vítor Marques deixou um aviso: “Temos hoje um regulamento diferenciador e que está em crescimento. Com este regulamento, aumentámos em cerca de 35% o apoio aos grupos desportivos, mas daqui a um ou dois anos, os movimentos que não estejam licenciados e legalizados não poderão receber apoio”.
O presidente apontou ainda a desigualdade entre as associações que utilizam instalações municipais e as que possuem os seus próprios espaços.
Vítor Marques adiantou que já foi feita uma proposta à Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro para que a Câmara possa assumir a gestão do Centro de Formação do Coto. “Entre várias valências, o espaço tem 44 camas que podem ser usadas para receber equipas em estágio”, explicou.
Além disso, a iluminação da praia da Foz do Arelho será melhorada, um investimento que pretende reforçar a segurança e as condições para a prática desportiva naquela zona.
No que diz respeito ao Centro de Alto Rendimento de Badminton, o autarca destacou a nova direção, que se mostra mais aberta a novas atividades. “É um espaço que pode ser melhor aproveitado, incluindo com a criação de dormitórios para receber atletas”, revelou.
Para o presidente da Câmara, a estratégia para o futuro passa por continuar a diversificar a oferta desportiva e reforçar a identidade do concelho como um destino privilegiado para várias modalidades.