Ana Saraiva, da Direção-Geral das Atividades Económicas, esteve presente no roadshow Acelerar 2030, que decorreu na Casa da Música, em Óbidos, e alertou para a importância da adesão das empresas ao programa que foi “pensado para ser implementado em parceria com os Bairros Comerciais digitais”.
“À data de hoje, já receberam voucher ou encontram-se em condições de ser apoiadas 334 empresas em toda a região Oeste, mas, em Óbidos, esse número reduz-se a apenas nove empresas. Estamos ainda a um terço da meta estabelecida na região”, explicou.
A responsável sublinhou ainda o esforço que tem sido feito para melhorar as condições do programa e apelou à participação do setor empresarial. “Não há sucesso neste projeto se as empresas não aderirem. Por muito que façamos o nosso trabalho, e fizemos um esforço grande, temos negociado com Bruxelas para aumentar o valor dos vouchers e a cobertura territorial. As associações andam de porta em porta a tentar angariar empresas. Venham ter connosco, aproveitem este apoio. Trata-se de um investimento a fundo perdido, do qual as empresas só têm de pagar o IVA, que depois podem recuperar”, referiu.
“Temos de perder a ideia de que uma empresa boa sobrevive sozinha. É essencial montar um ecossistema empresarial onde todas se beneficiam mutuamente. Em territórios de média dimensão, como a maioria dos concelhos do Oeste, é fundamental encarar as empresas como uma rede interligada. Quando o ecossistema é forte, todas saem beneficiadas”, adiantou Ana Saraiva.
O evento reuniu cerca de 50 comerciantes e empresários locais, que tiveram a oportunidade de conhecer as vantagens da transição digital e esclarecer dúvidas sobre os apoios disponíveis.
Pedro Espírito Santo, do Instituto Politécnico de Leiria, destacou que 9 em cada 10 micro e pequenas empresas reconhecem os benefícios da digitalização. Segundo revelou, 64% das microempresas já possuem um domínio próprio com o seu website. No entanto, alertou que a presença nas redes sociais não deve ter o mesmo propósito que um website.
O especialista sublinhou ainda a importância da cibersegurança, mencionando que apenas uma pequena percentagem das empresas investe nesta área. “Um dos vouchers disponíveis pode ser utilizado para formação em cibersegurança, algo crucial, tendo em conta que 15,8% das empresas já enfrentaram incidentes nesta área”, referiu.
Além disso, menos de 10% das empresas investe em Inteligência Artificial, mas a maioria das PME pretende apostar nesta tecnologia num futuro próximo.
António Lucena de Faria, da Kit Digital, reforçou que a presença online contribui significativamente para o aumento das vendas, uma vez que 80% dos consumidores realizam pesquisas online antes de efetuar compras, mesmo que estas sejam feitas em lojas físicas. “Os canais digitais não substituem a loja física, mas permitem alcançar um público mais vasto e dar maior visibilidade ao negócio”, afirmou. Apresentou ainda um roteiro digital para as empresas, sugerindo que comecem por garantir a sua presença no Google, seguidamente criem um website, estejam ativas no Facebook e Instagram com três a cinco publicações semanais, com fotografias ou vídeos curtos e, numa fase posterior, explorem a criação de uma loja online.
“O digital também tem os seus perigos”
Após as intervenções, seguiu-se um debate moderado pelo deputado na Assembleia da República, Telmo Faria, que colocou questões tanto aos oradores como à plateia e partilhou a sua perspetiva enquanto empresário hoteleiro, num setor em que as vendas dependem inteiramente do digital.
Telmo Faria começou por sublinhar a importância do digital, alertando, no entanto, para os desafios e riscos que lhe estão associados. “O digital também tem os seus perigos. Há um conjunto de ameaças que surgem com ele, como a reputação online, as fake news e a fraude, e esse é um lado que importa discutir”, afirmou.
Abordou a questão da burocracia digital, destacando os novos desafios que esta impõe. “Agora tudo funciona através de plataformas digitais, o que exige uma gestão de passwords rigorosa”, manifestou.
Miguel Silvestre, diretor do Óbidos Parque – Parque Tecnológico de Óbidos, deu o exemplo da pandemia de Covid-19, quando algumas startups ali sediadas criaram, em poucas semanas, soluções como mercados eletrónicos e plataformas digitais para responder às necessidades do momento. “Depois, vimos Comunidades Intermunicipais a lançar soluções semelhantes, financiadas com dinheiro público, que acabaram por ocupar o espaço dessas empresas que, por iniciativa privada, estavam já a dar resposta ao mercado. Há aqui uma competição que nem sempre é justa”, criticou.
Apesar disso, reconheceu que estes programas têm impacto, embora ressalve que a sua execução nem sempre beneficie todas as empresas de forma equitativa.
O presidente da Câmara de Óbidos, Filipe Daniel, destacou a importância do evento Óbidos Vila Gaming, sublinhando que vai muito além do mero entretenimento. “Há uma forte ligação entre esta área e outros setores, e estamos a desenvolver um projeto de três anos que envolve alunos do ensino secundário e universitário, interligando a cultura com a gamificação”, afirmou.
Segundo o autarca, as grandes empresas multinacionais já utilizam a gamificação em várias vertentes, nomeadamente para promover produtos através da experiência e do conhecimento de outros. “Isso é gamificação, e é precisamente nessa vertente que queremos afirmar-nos”, sublinhou.
Filipe Daniel realçou ainda o papel da tecnologia no desenvolvimento do concelho, referindo que Óbidos teve a visão estratégica de criar o Parque Tecnológico. “Este espaço é fundamental para congregar e desenvolver ideias, mas, acima de tudo, para criar ligações com a academia, que são essenciais para a investigação e o desenvolvimento económico”, concluiu.