Nas Caldas da Rainha, deu uma conferência inovadora sobre budismo e políticas sociais, um tema que, segundo o próprio, “é ainda pouco explorado, mas absolutamente essencial”.
Foi também recebido pelo presidente da Câmara Municipal, Vítor Marques, com quem conversou sobre liderança e serviço público.
Além das Caldas, Alfredo Sfeir-Younis deslocou-se a Fátima, onde promoveu uma meditação em silêncio.
Visitou a redação do JORNAL DAS CALDAS, no passado dia 15 de abril, para uma entrevista.
Durante a conversa, o economista que foi o primeiro especialista em economia ambiental do Banco Mundial, refletiu sobre a sua visão de mundo e os desafios atuais. “Se não há transformação humana, se não há consciência realmente, se não há espiritualidade na política, na economia e nos negócios, é um caminho suicida para a humanidade”, afirmou com convicção.
Alfredo Sfeir-Younis fundou o Instituto Zambuling para a Transformação Humana e candidatou-se à presidência do Chile em 2013 pelo Partido Ecologista Verde. Hoje, vive numa pequena fazenda no sul do Chile, onde se dedica à escrita e a retiros espirituais. “Estou ali a escrever, a fazer retiros espirituais, a entrar em uma transformação humana”, contou.
Para o economista a espiritualidade não deve ser vista como um conceito afastado da realidade. “Espiritualidade sem política, espiritualidade sem economia, sem negócio, é uma teoria. Podemos falar de teorias de iluminação, meditação, yoga… mas tudo isso tem que estar ao serviço da vida real, da vida das pessoas”, referiu.
“Tenho uma autorrealização da compaixão, mas também tenho que ter um compromisso de construir uma sociedade compassiva. Esse balanço tem que estar em tudo, na política, na economia, no mundo inteiro. Senão, o final é todo sofrimento”.
Ao Jornal das Caldas, o chileno alertou que vivemos um momento de viragem global sem precedentes, marcado pela interdependência planetária e pela necessidade de uma nova consciência coletiva. “Pela primeira vez na história da humanidade, estamos a viver uma sociedade planetária”, afirmou. “O que se passa no Chile afeta Portugal, e o que se passa na China afeta os Estados Unidos, e os Estados Unidos afetam o mundo todo”.
Para Alfredo Sfeir-Younis esta “realidade exige um novo modelo democrático baseado na cidadania global”. “Estamos a criar uma nova forma de democracia, que eu chamo de democracia da cidadania planetária”, salientou.
Além do plano político, o economista sublinha a importância da meditação e outras práticas espirituais como resposta à crescente complexidade do mundo. “A meditação é uma técnica que ajuda a acalmar a mente. Uma mente agitada, uma mente de macaco, não tem capacidade para tomar decisões corretas”, disse.
O economista destacou ainda os benefícios físicos e mentais destas práticas. “Quando a mente está tranquila, há efeitos no sistema nervoso, na estabilidade emocional, na memória, na criatividade. Hoje, o mundo é muito mais complexo, e a mente precisa de estar mais preparada”, referiu.
Dirigindo-se especialmente às novas gerações, Alfredo Sfeir-Younis observa que os jovens enfrentam uma avalanche de informação e estímulos desde muito cedo. “Crianças de dois, três anos com o telefone na mão… A mente tem de estar preparada para lidar com essa acumulação de experiências”.
“Caldas deve assumir um papel de liderança”
O líder espiritual chileno Alfredo Sfeir-Younis acredita que Caldas da Rainha tem “um grande futuro” e destaca o papel estratégico da cidade na construção de um novo modelo de desenvolvimento”.
O economista defendeu que o “Município tem potencial para ir além do turismo e assumir um papel de liderança regional e nacional”.
“Caldas está numa posição geográfica muito estratégica”, afirmou. “E tem que utilizar esta vantagem para influenciar outras formas de desenvolvimento. Aqui não só pode haver mais turismo, mas também mais serviço, mais finanças, mais agricultura. Eu penso que as Caldas têm um grande futuro”, adiantou.
O líder espiritual apelou à inclusão ativa dos jovens na construção do futuro da cidade. “O futuro das Caldas depende fundamentalmente dos jovens. Tem que haver um mecanismo de participação dos adolescentes”.
Alfredo Sfeir-Younis também realçou o papel fundamental das mulheres portuguesas que que têm um papel muito grande a desempenhar”. “É uma mulher muito desenvolvida, que conhece muito bem não só a sua história de sobrevivência, mas tem também uma forma de olhar o mundo muito diferente de outras mulheres do planeta”, referiu.
Para o economista o desenvolvimento das Caldas e de Portugal só fará sentido se for “ancorado numa visão mais ampla de bem-estar”. “Aqui há uma consciência claríssima de que o bem-estar não é apenas material. Há algo mais. E isso é precisamente o que o mundo precisa neste momento”, defendeu.
O economista não descarta a possibilidade de regressar a Portugal. “Gostava de organizar aqui aqueles retiros como estou a fazer lá no meu país. Portugal é muito especial”, disse, relembrando com carinho os anos em que viveu no concelho do Bombarral.
“A passagem de Sfeir-Younis por Portugal deixa a reflexão de que só com consciência e valores humanos é possível construir um futuro sustentável, não apenas para o planeta, mas para todos nós”.