Os 40 anos da “Festa da Amizade”, que ocorreu no Pavilhão da Mata, em 1983, com Zeca Afonso, vão ser assinalados nas Caldas da Rainha, com uma programação cultural de atividades designadas “O que faz falta”, organizada pelo Núcleo das Caldas da Rainha da Associação José Afonso (AJA).
A iniciativa, que se vai prolongar ao longo do ano, tem como objetivo “assinalar e relembrar os 40 anos da festa de solidariedade para com Zeca Afonso, realizada a 5 de fevereiro de 1983, no pavilhão da Mata das Caldas da Rainha”, explicou Élia Mendonça, membro do núcleo local da AJA, que integra vários amigos do cantor e filha de Renato Mendonça, em casa de quem o cantor costumava ficar durante as suas estadas na cidade.
O poeta, músico e “intérprete de um determinado registo e num tempo histórico e político que a posteridade viria a cunhar como música de intervenção” era presença regular em Caldas da Rainha, onde assiduamente visitava um grupo de amigos e também aproveitava para frequentar as termas locais. “Alguns dos seus discos proibidos pela censura tinham em Caldas da Rainha um dos principais entrepostos de distribuição clandestina”, recordou o núcleo, que “tardava em aparecer em Caldas da Rainha, mas que graças ao pontapé de saída de um dos membros, Paulo Vaz, acabou por se constituir em outubro do ano passado”.
O núcleo caldense conta com cerca de 30 elementos, alguns deles amigos, que privaram com José Afonso e participaram na organização da “Festa da Amizade”. “Após o agravamento da doença esclerose lateral amiotrófica, que o viria a vitimar, os amigos que tinha nas Caldas decidiram mobilizar-se e organizar a “Festa de Amizade a Zeca”, relatou Élia Mendonça, adiantando que foi “um espetáculo todo desenvolvido com um espírito de entreajuda, não só das pessoas que estavam na organização, bem como toda a comunidade caldense”. A par isso foi “um acontecimento cultural de dimensão nacional, que reuniu amigos espalhados pelo país e artistas que lhe eram próximos”.
Nesse sentido, o programa cultural “O que faz falta”, que foi apresentado no passado dia 25, no café concerto do Centro Cultural e de Congressos (CCC) de Caldas da Rainha, será desenvolvido até maio “em três eixos centrais”, nomeadamente exposições, mesas de conversa e concertos, em torno de José Afonso. Contudo, as comemorações dos 40 anos da “Festa da Amizade” vão arrancar oficialmente, no dia 5 de fevereiro, pelas 16h, no CCC, com o lançamento de uma serigrafia com a imagem original da festa, numa coleção de apenas 100 exemplares e que terá o valor de cinco euros.
No mesmo dia haverá um momento musical e uma conversa com os convidados Francisco Fanhais e Manuel Freire, mas também será projetado um pequeno filme com imagens e áudio, algumas inéditas da festa, e inaugurada uma exposição de fotografia, que documenta a festa da amizade no café concerto do CCC.
No dia 23 de fevereiro, data da morte do artista, haverá “uma pequena sessão de poesia no Café Central, local frequentado diariamente sempre que estava nas Caldas da Rainha”, explicou Élia Mendonça. Além disso haverá um momento de musical com artistas locais.
Em março, a programação prossegue com um concerto e uma mesa sobre a poesia de José Afonso, com a participação de Hélia Correia, Alexandre Pereira Martins e Francisco Fanhais. No mês a seguir será inaugurada a exposição “Nove capas para o Zeca”, desenhadas pelo escultor José Santa Bárbara e, em data e local ainda definir, será realizada a mesa redonda “A resistência do canto”, com Irene Pimentel, Manuel Freire e Francisco Fanhais.
Também haverá mesas de conversas, que “serão sempre acompanhadas de momentos musicais e terão o título geral ‘“Maior que o pensamento’”, sublinhou Lino Romão, do núcleo caldense, adiantando que “estamos a apontar para a poesia como forma de intervenção de política e de resistência”.
No que diz respeito às exposições, “estão intituladas como “Vejam bem” e os concertos, “Dia de festa, dia de cantar”, afirmou o elemento do núcleo caldense, indicando haver “sempre uma alusão a músicas de Zeca Afonso”.
A programação do primeiro semestre encerra com o concerto “Zeca e os poetas”, e a mesa “A música de José Afonso no seu tempo e na atualidade”, com Rui Vieira Nery, no dia 27 de maio, no pequeno auditório do CCC.
Em relação ao segundo semestre do ano, o “núcleo ainda está a preparar a programação”, afirmou Lino Romão, admitindo que na calha estão duas exposições cedidas pela Associação José Afonso, entre outras atividades. Com esta iniciativa, o núcleo lança as bases para a continuidade do evento e, sobretudo, para uma programação mais robusta em 2024, no âmbito dos 50 anos do 25 de Abril.
Presente na sessão de apresentação da programação dos 40 anos da “Festa da Amizade” também esteve o diretor do CCC, Mário Branquinho, que recordou que “quando fomos contactos já tínhamos na programação dois concertos tributo ao Zeca Afonso, e que vão de encontro ao pensamento e à homenagem ao artista”.
