emissão em direto

Cadaval vai acolher a primeira empresa de aquacultura sustentável de camarão em Portugal

Este ano, o Cadaval será palco do nascimento de um novo projeto inovador, a “Baía Impecável”, a primeira empresa em Portugal dedicada à aquacultura sustentável de camarão em águas marinhas. “Estamos a construir a primeira unidade trifásica de produção de camarão da Europa”, salientou o responsável pelo projeto, Paulo Marques. O projeto tem como missão fornecer camarão marinho fresco, sustentável e de alta qualidade, com total rastreabilidade, e pretende impulsionar o desenvolvimento regional.

 

Com um investimento de 3,4 milhões de euros, aBaía Impecável” terá um financiamento de cerca de 1,5 milhões de euros no âmbito do Programa Mar 2030, que aprovou a candidatura dirigida ao operador económico da aquacultura. O objetivo é produzir 300 toneladas de camarão por ano.

Paulo Marques, natural de Tomar, mas atualmente residente no Cadaval, destaca a importância da sustentabilidade e da qualidade no processo de produção. “A nossa prioridade é a produção de um camarão livre de químicos e fármacos, utilizando métodos biológicos inovadores que permite-nos garantir um produto mais saudável, saboroso e com menor impacto ambiental”, explica.

A “Baía Impecável” aposta na produção de camarão fresco de aquacultura, o que permitirá aos consumidores degustar um produto fresco, tal como o peixe.

Para tornar o projeto realidade, foi adquirida uma antiga estrutura de aviário localizada na fronteira entre Casalinho e Casal Velho, no Cadaval, que está a ser adaptada e transformada para o novo propósito.

“A ‘Baía Impecável’ é o lugar onde a inovação se alia à sustentabilidade, criando um sistema que não só respeita o meio ambiente, mas também garante a qualidade e frescor do camarão”, referiu o responsável.

“O projeto começou com um estudo económico sobre a viabilidade da produção de camarão em Portugal. Percebemos que a grande parte do camarão que chega à Europa é importado, vindo de países como o Equador e da Ásia. Decidimos, então, criar um ecossistema fechado, controlado, para replicar as condições ideais para a produção de camarão. A partir daí, fizemos um teste piloto, num pavilhão, onde a técnica foi ajustada e aperfeiçoada”, revelou Paulo Marques.

A produção será de 300 toneladas de camarão por ano, um volume que, segundo o responsável, é suficiente para abastecer o mercado nacional, que é um dos maiores consumidores de camarão da Europa, juntamente com França. “O mercado tem capacidade para absorver este volume. O nosso foco não é venda direta. Já temos uma empresa (revendedor) interessada em comprar praticamente toda a nossa produção de camarão”, referiu.

A empresa vai operar em instalações fechadas, com uma área de cerca de mil metros quadrados, onde será mantida uma temperatura constante de 28 graus ao longo do ano. O sistema contará com tanques de água, organizados para garantir a criação do camarão em ambiente controlado.

“Agora já estamos na fase de implementação e tenho dois anos para concluir o projeto”, afirmou o empresário. Destacou ainda que os trabalhos estão focados na reconstrução de quatro pavilhões existentes e na construção de um quinto pavilhão, localizado em uma área próxima, onde funcionarão os laboratórios de pesquisa porque tem que ser contínua”, explicou.

“O projeto contempla a construção de um moderno centro de investigação dedicado à pesquisa do renomado camarão do Pacífico, vannamei. Este espaço de 260 m² será um marco na exploração e preservação das riquezas marinhas, promovendo estudos inovadores e sustentáveis”, explicou Paulo Marques.

“O centro não só proporcionará um ambiente ideal para cientistas e pesquisadores, mas também fomentará a troca de conhecimentos e experiências, contribuindo para o fortalecimento da nossa comunidade científica”, adiantou.

O responsável espera ter um dos pavilhões prontos até final de abril para dar início aos testes das máquinas. Contudo, ressaltou que uma das dificuldades do projeto está relacionada com o terreno, que exige cuidados especiais no que diz respeito à impermeabilidade do solo. “Nada pode ser alcatroado, o solo tem que se manter impermeável, precisamente por estarmos em um terreno com identificação REN (Reserva Ecológica Nacional)”, indicou, vincando que a solução para esse desafio será a instalação de painéis fotovoltaicos em cima do pavilhão.

Além disso, o empresário destacou o desafio do licenciamento, explicando que nunca ninguém havia feito um licenciamento em Portugal para a produção de camarão. “Já temos o licenciamento, o que demorou algum tempo, mas conseguimos”, afirmou.

Paulo Marques fez questão de agradecer o apoio da Câmara Municipal do Cadaval, mencionando que foi “espetacular” no processo de aprovação do projeto. “A Câmara foi muito rápida e tudo funcionou muito bem”, salientou.

“A empresa cria quatro postos de trabalho. Um veterinário que já está a trabalhar connosco, um biólogo marinho e duas pessoas no manejo para fazer a despesca”, afirmou.

O processo de produção será altamente controlado, com pavilhões hermeticamente fechados e vigilância realizada via telemetria, visando garantir a biossegurança e otimizar o ambiente para o camarão. “A retirada do camarão é a despesca propriamente dita, ou seja, a pesca do camarão, tirá-lo dentro do tanque e depois repor com as larvas para desenvolver”, explicou.

Em relação ao sistema de cultivo, Paulo Marques detalhou como a água será mantida em equilíbrio biológico, sem a utilização de aditivos. “Vamos trabalhar com água marinha, e ela vai ficar sete anos sempre a mesma. Isto é feito com um ecossistema biológico na própria água, não leva aditivos absolutamente nenhuns, apenas microalgas unicelulares que regeneram a água”, esclareceu. Segundo o empresário, o processo é baseado num ciclo natural, onde as algas fazem fotossíntese e libertam oxigénio, enquanto os camarões consomem as algas, mantendo o equilíbrio.

Quanto à alimentação, o empresário revelou que a produção será sustentável, utilizando cereais como soja e milho, além de proteínas. “A parte da proteína normal, normalmente são farinhas de peixe, mas nós vamos utilizar farinha de tenébrio integral, que é o que se adequa mais ao camarão”, relatou, acrescentando que rigorosos testes garantem que o camarão atenda aos mais altos padrões de segurança e qualidade, proporcionando “uma experiência gastronómica excecional”.

 

Geração de energia própria

 

Paulo Marques destacou a solução inovadora que está a ser implementada para enfrentar os desafios energéticos do projeto, que exige um aquecimento constante de 28 graus durante todo o ano. “A nível energético, isto é muito importante, porque aquecer o ambiente a 28 graus durante 365 dias é muito pesado. Quando fizemos o estudo económico, uma das primeiras questões foi avaliar o impacto energético”, relatou.

Para minimizar os custos e a pegada ecológica, o projeto vai utilizar energia solar de forma eficiente. “Como não podemos impermeabilizar o solo com painéis solares, optamos por instalá-los em cima do pavilhão”, contou.

A grande inovação, porém, está no sistema de armazenamento de energia solar, que vai utilizar uma tecnologia única no país. “Vamos usar uma tecnologia muito interessante de uma startup finlandesa chamada Bateria de Areia. Eles concentram o calor em tanques de areia, que têm das melhores propriedades para reter calor. A areia consegue atingir temperaturas até 500 graus sem derreter”, revelou.

Esse sistema funciona através de uma serpentina que circula dentro da areia e retira o calor acumulado durante o dia. Esse calor será usado para aquecer os pavilhões à noite, garantindo uma operação eficiente e sustentável. “Durante o dia, a energia dos painéis solares aquece a areia. À noite, o calor acumulado vai aquecer os pavilhões. Esse sistema é algo inédito em Portugal, mas já foi implementado na Finlândia”, detalhou o responsável. “O foco é apenas o calor, que é o que realmente precisamos para manter a temperatura adequada. O gasto energético com as bombas de oxigénio, que são usadas para inserir oxigénio na água, é relativamente baixo”, explicou.

A solução adotada não só representa uma inovação no campo da aquacultura em Portugal, mas também oferece um exemplo de como a energia solar e novas tecnologias podem ser integradas para criar sistemas mais sustentáveis e eficientes.

“Temos a certificação de startup, não só pelo desenvolvimento tecnológico, mas também pela facilidade de replicar, ou seja, havendo quem produza a ração”, adiantou.

Paulo Marques também abordou a importância da política pública no desenvolvimento da aquacultura em Portugal, alinhada com as diretrizes da União Europeia para uma economia azul. “A política do Governo português tem que estar alinhada com a política da União Europeia, que visa tornar a Europa autossuficiente na produção do peixe que consumimos”, frisou.

 

Últimas Notícias

Atletas bombarralenses em competição

A secção de atletismo do Clube Desportivo do Bombarral esteve no passado dia 15 no Campeonato Distrital de Lançamentos Longos, que decorreu em Leiria.