Caldas com longas listas de espera para entrar em creche

Há nas Caldas da Rainha centenas de crianças sem vaga nas creches. Há pais desesperados porque têm que regressar ao trabalho e não têm onde deixar os filhos. A Associação Social e Cultural Paradense (ACSP), no Chão da Parada, tem atualmente 70 crianças em lista de espera para creche. Para colmatar esta situação foi assinada na passada segunda-feira, com o Instituto da Segurança Social, uma adenda para o aumento de quinze vagas em creche. “Temos neste momento 30 crianças nas três salas de creche e com esta assinatura vamos ter brevemente 45”, disse a diretora técnica da instituição, Vanessa Sobreiro.

“Temos uma lista de espera grande, daí a nossa insistência em pedir o alargamento da capacidade que já quando saiu o outro decreto-lei em 2013 tínhamos feito o pedido para mais seis vagas, o que nunca avançou. Agora com a publicação da Portaria 190-A/2023, de 5 de julho, que veio aprovar alterações às normas reguladoras das condições de instalação e funcionamento das creches, e às quais a associação concorreu, foi possível um alargamento da capacidade da creche da instituição para mais 15 crianças, passando assim de 30 a 45 o número de crianças a usufruir dos respetivos serviços”, explicou a diretora da instituição.

Com a autorização para mais 15 crianças, duas vão para o berçário, oito para a sala dos 12 a 24 e cinco para a sala dos 24 a 36 meses.

“Aumento de 15 vagas ainda não cobre necessidades”

“Mesmo assim as vagas não chegam para os pedidos que temos”, salientou Vanessa Sobreiro, acrescentando que “recebemos pais desesperados a chorar porque não têm resposta e equacionam despedir-se para poderem ficar com os filhos em casa”.

Segundo Vanessa Sobreiro, como era de esperar, o facto de o programa “Creche Feliz” ser gratuito fez disparar o número de inscrições. “Acho que isto é a verdadeira lacuna desta lei porque havia encarregados de educação que se socorriam dos avós e alguns até estão no desemprego e passaram a recorrer à creche por ser gratuito”, adiantou.

A diretora da associação é da opinião que deveria de haver uma resposta prioritária para os “pais que estão no ativo”. “Também há pessoas no desemprego ou inativo e consideram que as crianças precisam de socializar, isso também é importante, mas não é prioritário”, afirmou.

Vanessa Sobreiro considera que deveria de haver uma alteração aos critérios e “dar prioridade aos filhos onde ambos os progenitores no seio familiar estão a trabalhar”.  

A diretora técnica da ASCP explicou que “existe uma plataforma no site da Segurança Social com toda a informação das vagas da rede de creches gratuitas e como as IPSS – Instituições Particulares de Solidariedade Social estão cheias é encaminhado um certo número de vagas para alguns estabelecimentos privados”.  

João Paulo Pedrosa, diretor da segurança social do Centro Distrital de Leiria, destacou que o acordo com a ACSP “vai permitir acolher mais 15 crianças, quando a procura é muito mais do que a resposta”.

Recordou que foi criada recentemente uma portaria que permite às instituições com creches e espaço ter mais crianças por sala. “Isto permitiu que no distrito num mês aumentássemos mais de 800 vagas”, revelou.

João Paulo Pedrosa adiantou que a assinatura do protocolo com esta IPSS é especial porque “a instituição andou há seis anos à espera para aumentar para seis lugares uma sala de creche e até fizeram obras, e apesar de ter sido autorizado nunca avançou”. “Foi uma situação incómoda porque não se podia chegar a um parecer final porque a associação tinha um projeto da creche e um projeto de ampliação do edifício que não foi feito e não podiam dar decisão porque a outra parte ainda não estava concretizada”, explicou.

Agora com esta nova portaria “eu disse que assumia os seis lugares a que tinham direito e que nunca foram dados e com a nova medida um acréscimo de mais nove vagas, o que faz um total de quinze crianças”. 

Já o presidente da autarquia, Vitor Marques, evidenciou o trabalho desenvolvido pela ACSP, que tem quase 50 anos.

Falou do grande desafio que é suprir a carência de vagas que hoje se verifica no concelho e que é transversal ao país. “Mais 15 vagas é significativo para dar uma boa resposta, mas mesmo assim não satisfaz as necessidades”, relatou.

O autarca realçou o movimento associativo do concelho, que faz um “trabalho de excelência” e falou ainda da necessidade das populações das localidades se envolverem nos “projetos das associações que trabalham em prol da comunidade”.

O presidente da direção da ACSP, Joaquim Fragata, revelou que a nova direção que tomou posse na passada semana viu como “uma bênção o aumento da nossa creche”. “Para nós é gratificante e uma oportunidade para dar mais respostas à população, uma vez que trabalhamos em prol do concelho”, declarou.

O responsável salientou que a nova direção “garante trabalho” e quer muito terminar o mandato com a ampliação do edifício da associação, “onde já temos o projeto orçado em cerca de 350 mil euros”.

Joaquim Fragata pretende ainda com o apoio da câmara e junta de freguesia “requalificar o parque infantil que está encerrado devido à falta de segurança e fazer arranjos no polidesportivo para voltar a dinamizar aquela infraestrutura”. “Queremos continuar a dignificar o trabalho de excelência da associação”, concluiu. 

A ASCP presta apoio a 130 crianças em idade de creche, pré-escolar e Centro de Atividades de Tempos Livres (CATL).

Instituições alegam elevada procura para creche

A Fonte Santa, Centro Social da Serra do Bouro é uma IPSS que também conta com a valência de creche e que neste momento tem 122 crianças inscritas em lista de espera. Em declarações ao JORNAL DAS CALDAS, a administrativa, Sandra Correia, olha para o problema e não o consegue dissociar da gratuitidade das creches, lançada há um ano. “Não tenho dúvida que a gratuitidade veio agravar a falta de vagas que triplicaram”, lamentou, revelando que uma das prioridades para os lugares deveria ser o facto de ambos os pais estarem empregados.

Cláudia Almeida, diretora técnica da Infancoop, revelou que tem “142 crianças em lista de espera para creche”. Também é da opinião que as inscrições aumentaram muito a partir do momento em que saiu a medida “Creche Feliz”. “O grande problema são os casos em que ambos os pais trabalham fora de casa e estão desesperados”, salientou. “Acho muito injusto, pessoas que estão sem trabalhar terem vaga e outros que têm que ir para os empregos não terem”, adiantou.

Madalena Bernardo, diretora técnica do Centro Social e Paroquial das Caldas da Rainha, afirmou que também tem uma lista de espera muito grande para creche e também considera que o facto de ser gratuito veio aumentar muito a procura.

O Koalas – Creche, Jardim Infância e Apoio Estudo tem 15 crianças em lista de espera para creche. Segundo Sónia Caetano diretora técnica da instituição que é privada, também diz que a procura “aumentou muito”. “Temos muitos pais que nos pedem ajuda, mas não temos capacidade”, salientou.

Lúcia Gaspar, de 30 anos, vive no Coto, nas Caldas da Rainha e tem uma menina de 9 meses. Trabalha como administrativa numa empresa nas Caldas da Rainha. Não inscreveu a filha numa creche porque “a avó era para ficar com ela quando voltasse a trabalhar, mas em agosto, no entanto sofreu em agosto um AVC – Acidente Vascular Cerebral e não está em condições para tomar conta de uma criança”. 

No final de agosto começou a saga da procura de creche para o bebé e depois de “dezenas de telefonemas” não encontrou vaga para a criança, nem nos concelhos vizinhos. “Não tenho vaga em nenhum local, mesmo numa instituição privada a pagar”, contou.

Mães sem solução para as crianças

Lúcia Gaspar não conhece nenhuma ama e tem receio de “colocar a menina em casa de uma pessoa que não conheço, depois das notícias que por vezes ouvimos de crianças maltratadas”. A solução para esta mãe é “deixar de trabalhar para me tornar cuidadora a tempo inteiro ou pedir à empresa se posso ficar em teletrabalho”. No entanto, duvida que a “entidade empregadora queira que fique em casa e tomar conta de uma criança e trabalhar em simultâneo”, adiantou.

Alice Marques, que tem um filho de um ano e não encontra na região uma creche para a criança, já está a trabalhar, mas “a pessoa que fica com o meu filho já não pode por razões profissionais”.

“Telefonei para várias instituições na região e todas estão com lista de espera”, relatou. “Tenho falado com muitas pessoas e responsáveis das infraestruturas e os critérios de admissão das crianças nas creches foram alterados com a introdução da gratuitidade, onde há uma preferência para a situação social e económica das famílias”, apontou.

Segundo Alice Marques, “um dos primeiros critérios de admissão era, por exemplo, ambos os pais trabalharem, agora, uma criança com ambos os pais, desempregados, por exemplo, terá prioridade. Os filhos dos desempregados entram todos”, declarou.

“Quem sente dificuldade nas vagas são as famílias que trabalham os dois e não encontram local para deixar os filhos”, adiantou.

Em declarações ao JORNAL DAS CALDAS a vereadora com o pelouro da ação social, Conceição Henriques disse que o Município está ciente da falta de vagas para creche nas Caldas. Revelou que o número recente de aumento de lugares de creche foi de 41 nas IPSS e 9 vagas nos estabelecimentos privados.

Referiu ainda que o município está a transformar as antigas escolas primárias das localidades de Carreiros (A-dos-Francos) e Ramalhosa (Alvorninha) em creche.

Justifica que a falta de vagas que é transversal ao país devido ao facto de ser gratuito, o que fez disparar o número de inscrições, e também devido à crescente vaga migratória.

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A Associação Social e Cultural Paradense tem 70 crianças em lista de espera para creche

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