O Centro e Escola de Mergulho promoveu recentemente uma iniciativa que alia a história local dos Fornos Romanos do Morraçal da Ajuda ao “envelhecimento” subaquático de bebidas típicas da região (ginja, licor e gin), recriando ânforas romanas que serviram de invólucro para as respetivas bebidas e que foram cuidadosamente colocadas no fundo do mar durante doze meses para adquirir caraterísticas únicas de paladar.
“Costumamos dizer que ‘as melhores histórias contam-se à mesa entre amigos’, e é exatamente esse o objetivo principal deste projeto: Contar as histórias náuticas e marítimas de Peniche e Berlengas ao sabor de produtos vinícolas da região”, relata Pedro Ramalhete, diretor executivo da Justdive.
Os fornos do Morraçal são um importante sítio arqueológico que remonta ao período romano. A olaria foi fundada por Lúcio Arvénio Rustico, um cidadão romano que terá iniciado a produção de ânforas para exportar garum e outros derivados piscícolas, como o peixe capturado no mar de Peniche, que era transformado em fábricas de conservas de peixe que terão existido na ilha de Peniche.
A sua localização estratégica perto da costa sugere que a produção cerâmica do Morraçal estava intimamente ligada ao comércio marítimo, facilitando a distribuição dos produtos através do Atlântico e das rotas mediterrâneas.
Os fornos, datados de cerca de 2000 anos, revelam técnicas avançadas de fabricação cerâmica e mostram a influência das práticas romanas sobre a produção local. Além disso, a presença desse tipo de infraestrutura em Peniche sublinha a importância da região como um centro económico durante o domínio romano.
A empresa de Peniche destaca as ânforas Lambóglia e as ânforas Mañá, associadas principalmente ao comércio de vinho, e apresenta o resultado do seu trabalho na Ginja Berlenga, que dá seguimento à tradição deste licor feito com ginjas maduras cultivadas na região Oeste.
“A nossa ginja de Óbidos ganha um caráter singular através de uma história única: as garrafas foram submersas nas águas do mar de Peniche durante um ano, permitindo que o ambiente marinho conferisse à ginja um sabor ímpar. Este contato com o mar não só enriqueceu o perfil gustativo da bebida, como também resultou nas incrustações naturais e únicas que adornam cada ânfora. Assim, cada exemplar torna-se uma peça exclusiva, refletindo a magia do mar e a essência da tradição portuguesa, fazendo desta bebida uma experiência verdadeiramente inigualável”, descreveu a Justdive.
O Licor Estelas e o Gin Farilhões são outras produções sujeitas ao envelhecimento subaquático.