O nascimento de Vicente, terceiro filho de Ana Ribeiro e Ismael Conceição, ambos de 37 anos, foi dentro de uma ambulância dos bombeiros da Nazaré.
“Comecei com as primeiras contrações às dez da manhã, aqui em casa. Fiz a rotina normal, porque eram contrações bastante espaçadas e com tempo, até que às 15 horas decidi então ligar para a Saúde 24, porque isto era um parto programado, já sabia que teria que ser direcionada para Coimbra, e na minha inocência ia dar tempo”, contou Ana Ribeiro, que trabalha numa empresa de design de interiores na Zona Industrial das Caldas da Rainha.
“Reencaminharam logo para o INEM e eram 15h16 já estavam os bombeiros da Nazaré em minha casa”, relatou Ana Ribeiro, moradora em Quinta Nova.
Só que quando estava a ser levada para o hospital “as contrações ficaram muito juntas” e dentro da ambulância rebentaram as águas, eram 15h49. Encostaram à saída do IC9, em Valado dos Frades e às 16h00 em ponto nascia o Vicente.
O parto foi efetuado pelo enfermeiro Ivo Costa, da ambulância de Suporte Imediato de Vida de Alcobaça, com a ajuda da bombeira Catarina Filipe. A ambulância do INEM era guiada pelo técnico de emergência pré-hospitalar Dinis Coito, enquanto que a viatura dos bombeiros era conduzida pelo chefe Quim Zé.
“Por coincidência conhecia a mãe e disse que não há-de ser desta, porque cada vez que há alguma grávida chegavam todas ao hospital. Entretanto, a bolsa acaba por ter a ruptura e foi uma coisa mesmo super rápida. Com as condicionantes dos hospitais, porque temos as maternidades mais próximas de nós, Caldas e Leiria, ao fim de semana constantemente fechadas, o nosso destino seria Coimbra, para a Maternidade Daniel de Matos. Iniciámos transporte, mas assim que saímos do IC9, na zona do Valado, o Vicente não esperou muito tempo e nasceu”, descreveu a bombeira.
“É uma emoção muito grande, porque uma coisa é sabermos na teoria, temos muita formação, sabemos no manual o que é que temos que fazer, mas depois ficamos com receios se está tudo bem e como é que vai ser”, admitiu Catarina Filipe.
Ana Ribeiro elogiou o trabalho dos bombeiros e do INEM: “Foram-me dadas muitas dicas pela bombeira Catarina e pelo enfermeiro Ivo para me ajudar no trabalho de parto, nomeadamente a respiração correta. Sou uma pessoa muito sensível, muito fraquinha, não aguenta dor e depois tenho doenças associadas, portanto, era inevitável que tivessem o máximo cuidado para eu não ter o maior pico de dor que espoletasse problemas que tenho de saúde”. Por outro lado, a bombeira “nunca me largou a mão”.
O chefe Quim Zé ficou emocionado com o nascimento. “Quando a Catarina me disse para encostar, fui travando, encostei e quando me preparo para sair para ir ajudar a equipa que estava lá atrás, o meu espanto é ouvir o Vicente a chorar. Claro que para mim foi uma alegria. Nós trabalhamos sempre no fio da navalha e infelizmente já vimos muitos partir, agora ver um a chegar ao novo mundo é uma alegria”, recordou.
“Temos formação de emergência obstétrica mas, claro, ninguém quer que nasça uma criança dentro da ambulância. Ficamos sempre com o coração muito apertado, porque pode correr bem ou pode correr mal”, adiantou.
A equipa da Viatura Médica de Emergência e Reanimação das Caldas da Rainha, composta pela médica Mariana Cascão e pelo enfermeiro Eddy Dias, haveria de complementar o trabalho realizado. A grávida e o recém-nascido foram depois transportados para o Hospital de Santarém.
O pai da criança, empregado fabril no concelho de Alcobaça, seguia noutro carro e acabou por não assistir ao nascimento, mas agradece às equipas envolvidas.
“Primeiro que nada queria dar os parabéns à minha mulher, que é uma grande mulher, e naquele dia foi mesmo um milagre. Eu já ia a caminho para Coimbra quando disseram que já tinha nascido e tive de voltar para trás”, contou.
Aos bombeiros e profissionais de saúde, Ismael Conceição deixou uma mensagem: “Agradeço muito a eles, por terem paciência e saberem o que estão a fazer”.
Vicente é agora o novo membro da família, mimado pelos pais e pelos irmãos, uma menina de dez anos e um menino de quatro.
Em 97 anos de existência da corporação de bombeiros da Nazaré terá sido o quinto parto ocorrido nas suas ambulâncias.