Jornal das Caldas – Com a nomeação de José Bernardo Nunes como vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo, Ricardo Pinteus assumiu a presidência da Câmara Municipal do Cadaval a 16 de janeiro deste ano. Como avalia estes primeiros meses à frente do município e quais têm sido os principais desafios enfrentados?
Ricardo Pinteus – Tem sido uma experiência muito desafiante, pois mesmo conhecendo muito bem o concelho, a câmara municipal e o seu funcionamento, uma coisa é ser vereador ou vice-presidente e outra é ser presidente.
De facto, é uma função muito exigente que implica uma grande disponibilidade, mas que nos dá também uma grande satisfação, na medida em que podemos resolver os problemas reais que afetam as pessoas no dia-a-dia, e isso realiza-me sinceramente.
J.C. – Quais foram os principais desafios que enfrentou desde que assumiu a presidência do município?
R.P. – Como já referi anteriormente, embora já acompanhasse grande parte dos projetos em curso, foi necessário priorizar o que é mais importante para o concelho e dar um novo impulso para que as coisas andem a bom ritmo.
Temos de ter noção das dificuldades, hoje lançamos obras que ficam desertas, ninguém aparece aos concursos e os projetos atrasam, mas não podemos baixar os braços.
As pessoas querem dinamismo na gestão da autarquia e é nisso que estou empenhado, o Cadaval precisa disso, desse empenho e dessa vontade de andarmos para a frente.
J.C. – Quais foram as maiores conquistas do executivo nos últimos quatro anos?
R.P. – Tivemos uma série de projetos aprovados, que dependeram do nosso esforço para que tivessem andamento e são já uma realidade, como a resposta na habitação, com algumas habitações a serem entregues. Destaco ainda obras que estão em curso, nomeadamente para aqueles que não têm uma habitação condigna.
Estamos agora a concluir o novo edifício de serviços do município que vem melhorar as condições de trabalho dos nossos funcionários que, espero, venha também melhorar a resposta que damos aos munícipes nas mais diversas áreas.
Temos ainda vários projetos que conseguimos aprovação e financiamento, a que temos de dar andamento rápido, pois julgo que podem fazer a diferença que tanto precisamos para estimular a nossa economia.
Por exemplo os “passadiços de Montejunto”, podem ajudar a alavancar as nossas atividades económicas nas suas mais diversas vertentes.
São alguns milhões de investimento que tenho a certeza que, se nós não aproveitarmos, haveram outros à espreita para ficar com eles, é uma oportunidade única e ainda por cima com baixo impacto nos recursos económicos da autarquia, atendendo a que é um projeto financiado quase na sua totalidade com fundos europeus.
J.C. – Como avalia a evolução da economia do Cadaval nos últimos quatro anos? Houve crescimento significativo?
R.P. – O que nos dizem os dados, é que a economia do concelho cresceu, o desemprego diminuiu e os salários subiram ligeiramente, mas o que também sabemos é que tudo está mais caro, a vida dos cadavalenses não é diferente da dos outros portugueses, pelo que temos de estar bem atentos às questões sociais para que ninguém fique para trás.
J.C. – O Cadaval será o primeiro município em Portugal a receber uma empresa de aquacultura sustentável de camarão. Que impacto espera que esta iniciativa tenha na economia local e no desenvolvimento sustentável do concelho? E que medidas foram tomadas para atrair esta empresa para o território?
R.P. – O que fazemos a todas as empresas e empresários que se queiram estabelecer no concelho é dar-lhes uma “via verde” para tudo o que tenha a ver com a resposta da Câmara Municipal, desde o licenciamento a infraestruturas.
No caso concreto, desde a primeira abordagem do investidor estivemos sempre disponíveis para despachar todos os procedimentos necessários de forma rápida e de modo a que este percebesse que estava a ser acompanhado.
Às vezes não é fácil, pois existem muitos pareceres e autorizações que não dependem exclusivamente da câmara, mas no que depende de nós é sempre velocidade máxima.
Embora a pessoa já tivesse ligação ao concelho, fico muito satisfeito por ter decidido investir cá.
É disto que o Cadaval precisa, de gente empreendedora que arrisca investir, muitas vezes em novas áreas de negócio e que até nem precisam de ser muito grandes, desde que criem riqueza e acrescentem valor, criando oportunidades de emprego, nomeadamente de emprego qualificado.
J.C. – O Cadaval tem um forte setor agrícola e vínculos com a vitivinicultura. Como vê o futuro destes setores, face aos desafios climáticos e do mercado? Que medidas tem a autarquia tomado para apoiar estes setores?
R.P. – Sendo a principal atividade económica do concelho, a agricultura, seja na fruta seja no vinho tem uma dinâmica própria, que está na vanguarda do que melhor se faz nestas áreas, seja no conhecimento ou nas infraestruturas.
Felizmente é a autarquia que muitas vezes tem de estar atenta ao que se passa no setor e não o contrário, face ao seu dinamismo, no entanto não podemos descurar aqueles que são os novos desafios para o setor.
Estamos muito atentos ao que se passa, nomeadamente às doenças e pragas das plantas, mas também à questão dos recursos hídricos.
Embora este seja um ano de muita chuva, sabemos que os últimos não foram assim e que a água é um desafio para a agricultura para o concelho e para a região nos próximos anos.
Assim, em estreita ligação com as associações de agricultores, estamos a desenvolver um plano hídrico para o concelho, que visa a resposta à disponibilidade de água para a agricultura, mas também para outras atividades complementares como o turismo ou o lazer. Também nesta área, temos uma “via verde” para o licenciamento de infraestruturas sabendo da importância da resposta em tempo útil para os agricultores.
Também aqui teremos de dar uma atenção especial às questões da habitação, pois se por enquanto ainda não é um problema a situação dos trabalhadores sazonais, convém começar já a preparar respostas para esta nova realidade que é cada vez mais evidente.
J.C. – A habitação tem sido um dos grandes problemas do pais? Como está o acesso à habitação no Cadaval? Como avalia a resposta da autarquia face à crescente procura e aos preços elevados? Existem novos projetos previstos?
R.P. – Felizmente, também nesta área os empresários locais têm sido proactivos e a construção, que esteve quase parada há poucos anos, está já há algum tempo a avançar a bom ritmo.
Tenho sérias dúvidas que as autarquias tenham alguma capacidade de regular o acesso à habitação, ou sequer se devem fazê-lo, mas naquilo que é a resposta social, que nos compete, temos estado atentos e a trabalhar. É fácil perceber que existem dois fatores que estão a interferir substancialmente no preço das casas no nosso concelho, um é a procura motivada pelas pessoas das periferias das cidades, nomeadamente da capital, que vendem caro e estão disponíveis para comprar acima do preço normal do mercado local, e o outro é o preço elevado da mão de obra e dos materiais. Hoje, construir uma casa é quarenta por cento mais caro do que há cinco anos atrás e os salários não acompanharam essa tendência.
Neste momento temos aprovada uma linha de financiamento para a construção de um edifício multifamiliar, no entanto quer a taxa de juro, quer o prazo de execução estão desfasados da realidade, estamos a tentar renegociar para avançar com o projeto.
J.C. – Quais são os principais desafios e oportunidades que vê para o futuro do Cadaval?
R.P. – Costuma-se dizer que devemos transformar as dificuldades em oportunidades e é isso que procuro enquanto autarca, sempre que me colocam um desafio, tento ver uma oportunidade para o meu concelho e para os seus munícipes.
Já enumerei alguns dos desafios, nomeadamente naquela que é a nossa principal atividade económica, mas também o da habitação.
A questão da saúde é também um desafio, que embora não dependa de nós, estamos obrigados a encontrar respostas e estamos a trabalhar nelas.
Na educação, por exemplo, identificámos uma necessidade das famílias, que eram os períodos de férias das crianças, e criámos uma resposta, com as “férias na escola” e outros programas complementares à escola.
No fundo identificamos oportunidades de ir ao encontro daquilo que as pessoas precisam e isso é dar futuro à nossa população.
Agora não há dúvida que precisamos de atrair mais pessoas, mais empreendedores, como aquele que falámos há pouco, de modo a criar massa crítica e escala que nos permita crescer de forma sustentada.
J.C. – No Oeste Summit, realizado no âmbito da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, foi várias vezes destacada a união dos presidentes dos municípios que integram a OesteCIM – Comunidade Intermunicipal do Oeste em prol do desenvolvimento da região. Concorda com esta visão? Como avalia o trabalho que tem sido desenvolvido pela OesteCIM?
R.P. – A partir do momento em que a OesteCIM passou a ser responsável pela gestão de fundos comunitários, tenho de pugnar por uma visão de união e de entendimento, pois só assim é possível distribuir as verbas de forma justa e eficiente.
Sem união e entendimento não seria possível desenvolver projetos regionais, como os passes dos transportes, ou alocar verbas a projetos concelhios para os quais é necessário o consenso da maioria dos presidentes.
J.C. – O que acha das Eleições Legislativas Antecipadas? Considera que vai prejudicar a decisão da localização do futuro Hospital do Oeste? Já há alguma novidade em relação a este equipamento? Onde é que defende a localização do novo Hospital do Oeste?
R.P. – Julgo que ninguém queria eleições antecipadas, nem o Governo, no entanto a nossa democracia tem esta forma de funcionamento e embora não concorde, aceito e compreendo.
Quanto ao novo hospital do Oeste compete ao Governo decidir a sua localização, mas mais importante do que isso é quando é que se inicia a sua construção.
Para já existem verbas inscritas no orçamento de Estado para este ano, o que para mim é um sinal muito positivo, no entanto devemos estar atentos a este processo, que pode ter sérios impactos no nosso concelho, não só na resposta à saúde, mas na nossa economia.
Também estamos a trabalhar esse assunto com alguma atenção, pois terá impacto logo a partir da sua construção e, essencialmente, assim que entre em funcionamento.
J.C. – Tem havido muita controvérsia em relação à segurança da região. Qual a sua opinião, em relação aos imigrantes. São fundamentais para a economia local? O que é que o Município do Cadaval está a fazer em relação à segurança?
R.P. – Não tenho dúvida que os imigrantes são necessários para a economia da região e percebe-se bem isso quando se abre uma vaga, por exemplo para os quadros da autarquia, e não aparece ninguém, ou quando vemos os trabalhos no campo e vemos pessoas de outra nacionalidade, percebe-se isso quando passamos numa obra e não se ouve falar português.
Estamos articulados com as forças de segurança nesta matéria, mas não vejo um problema de segurança, vejo antes uma oportunidade para fazermos bem, quando já percebemos o que são alguns dos maus exemplos pelo país fora.
Mas é importante que todos façam a sua parte, quem acolhe, tem de acolher bem e quem chega deve procurar integrar-se, até agora está a correr bem, mas vamos continuar atentos.
J.C. – Ricardo Pinteus concorre pelo PSD às eleições autárquicas de 2025 com o objetivo de o partido ganhar a câmara, a assembleia municipal e as freguesias. A candidatura surgiu da experiência acumulada como vice-presidente?
R.P. – Com certeza que o facto de acompanhar a atividade da autarquia desde dois mil e treze terá pesado na escolha dos meus companheiros de partido. Mas a minha candidatura parte da minha vontade de querer fazer mais pelo meu concelho, pelo concelho que me viu crescer, onde está a minha família há várias gerações e onde quero que as minhas filhas cresçam.
Tenho um orgulho imenso no Cadaval e espero poder contribuir para o seu desenvolvimento, esse é o meu objetivo.