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Riscos Psicossociais: o impacto silencioso na produtividade das empresas

Os riscos psicossociais são hoje uma das maiores ameaças à saúde e bem-estar dos trabalhadores na União Europeia, logo a seguir às doenças musculoesqueléticas. Com impacto direto tanto na saúde física e mental dos profissionais como na produtividade das empresas, este tema ganha cada vez mais relevância no debate sobre segurança e saúde no trabalho (SST). A importância desta questão esteve em destaque no seminário “Riscos Psicossociais: O impacto (in)visível nas empresas”, realizado no auditório da Expoeste, nas Caldas da Rainha, e promovido pela Fermabe - Segurança e Saúde no Trabalho em parceria com a AIRO – Associação Empresarial da Região Oeste.

“O bem-estar dos trabalhadores está diretamente ligado ao sucesso das empresas”, afirmou Luís Amorim, administrador da Fermabe, perante uma plateia de 130 participantes, atentos ao impacto que a saúde emocional tem na motivação, produtividade e qualidade de vida dos colaboradores. Para enfrentar este desafio, a Fermabe criou uma equipa especializada na avaliação e análise técnica dos riscos psicossociais nas empresas.

“Através desta avaliação, conseguimos compreender melhor as necessidades das empresas e dos seus trabalhadores, apoiando a implementação de medidas eficazes”, explicou Luís Amorim. O responsável destacou que as iniciativas incluem formação especializada, consultas de psicologia e outras ações destinadas a promover o bem-estar e a saúde mental no ambiente laboral.

Segundo Luís Amorim, já existem mais empresas da região Oeste a aderir a este Plano de Saúde Mental nas Organizações.

Luís Amorim revelou ainda que a equipa de riscos psicossociais da Fermabe é composta pelas oradoras deste evento, sublinhando o papel crucial que desempenham no apoio às empresas.

Este seminário reforça a importância de uma abordagem proativa e estruturada para mitigar os riscos psicossociais, evidenciando o “papel essencial das empresas na criação de ambientes de trabalho saudáveis e equilibrados”, salientou o administrador da Fermabe.

Sara Correia, mestre em enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, foi uma das intervenientes, sublinhando a necessidade de reconhecer e combater estes riscos para garantir ambientes laborais mais saudáveis e produtivos.

A enfermeira protagonizou uma intervenção impactante sobre a saúde mental no trabalho, destacando a sua importância e os desafios enfrentados pelos trabalhadores portugueses. Sara Correia fez questão de frisar que “a saúde mental não se vê, mas vê-se”, incentivando uma reflexão coletiva sobre um tema muitas vezes negligenciado.

A sua abordagem começou por questionar a própria definição de saúde, recordando a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS): um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença. Partindo deste conceito, alertou para o facto de que a saúde mental impacta diretamente a produtividade, o bem-estar das equipas e, consequentemente, o sucesso das empresas e da sociedade.

Durante a sua intervenção, Sara Correia apontou os riscos psicossociais no local de trabalho como uma realidade preocupante. Desde “carga excessiva de trabalho, pressão para cumprir prazos, insegurança laboral, comunicação ineficaz, falta de apoio de chefias e colegas até à dificuldade em conciliar vida profissional e pessoal, todos estes fatores afetam significativamente a saúde mental dos trabalhadores”.

O stress foi um dos principais pontos abordados, com dados alarmantes sobre Portugal. O país ocupa o 7.º lugar na Europa com maior nível de stress laboral. Mais preocupante ainda, “53% dos trabalhadores portugueses faltam ao trabalho devido a burnout, um estado de exaustão física e emocional que pode ter consequências graves, como depressão e ansiedade”.

A enfermeira destacou ainda que os riscos psicossociais têm impactos não apenas individuais, mas também organizacionais e sociais. “O absentismo e o presentismo (estar presente no trabalho, mas com produtividade muito reduzida) são reflexos diretos da falta de cuidados com a saúde mental. “A empresa perde em produtividade”, sublinhou.

 

Prevenir e intervir

 

Foi sublinhada a importância de identificar os sinais precoces e promover um ambiente de trabalho mais saudável. “Criar espaços de diálogo, reduzir cargas excessivas, fomentar uma cultura de apoio e normalizar a procura de ajuda psicológica são passos fundamentais”, relatou.

Sara Correia lançou o desafio que “cabe a cada um de nós estar atento, cuidar de si e dos outros, e reconhecer que a saúde mental é um pilar essencial para um ambiente de trabalho saudável e produtivo”.

Segundo a enfermeira, “a prevenção e a promoção da saúde psicológica e do bem-estar nas empresas portuguesas podem reduzir as perdas de produtividade pelo menos em 30% e, portanto, resultar numa poupança de cerca de 1,6 mil milhões de euros por ano”.

O sucesso e a sustentabilidade das organizações passam imperiosamente pelo “investimento na construção de locais de trabalho saudáveis, criadores de saúde psicológica e bem-estar, nomeadamente através da avaliação, prevenção, disponibilizar serviços de ajuda, criar espaços para mediação de conflitos, ou seja, intervenção nos riscos psicossociais que afetam o trabalho e os trabalhadores”, adiantou a profissional de saúde.

 

Gerir as emoções

 

Sofia Nunes, técnica e Formadora de SST e de desenvolvimento pessoal e profissional, partilhou a sua experiência e visão sobre o papel das emoções e da autogestão na resolução de conflitos.

“Como lidamos com os nossos próprios conflitos? Como gerimos as nossas emoções?”, questionou Sofia Nunes, sublinhando que muitas vezes os problemas no local de trabalho refletem questões internas dos próprios profissionais. “As empresas funcionam com números, mas nós não somos apenas um número. Somos parte ativa da organização”, afirmou.

A formadora destacou ainda a importância da autocrítica e da responsabilidade pessoal na forma como encaramos os desafios profissionais. “Quantas vezes dizemos que somos verdadeiros e honestos, mas quando nos perguntam como estamos, respondemos apenas estou bem, sem revelar o que realmente sentimos?”. Segundo a formadora, a falta de autenticidade e a dificuldade em aceitar as próprias emoções podem agravar conflitos internos e externos.

Partilhando a sua experiência pessoal de assédio moral, Sofia Nunes explicou como aprendeu a lidar com a adversidade: “Na altura, fiquei muito mal. Pedi ajuda a entidades competentes e não tive apoio. Mas percebi que, se ficasse presa ao que aconteceu, continuaria a sofrer. Foi nesse momento que decidi mudar a minha perspetiva e assumir o controlo das minhas escolhas”.

Para esta especialista, a chave para uma gestão eficaz dos conflitos reside na capacidade de tomar decisões de forma consciente e responsável. “Todos os dias fazemos escolhas, desde a hora a que saímos de casa até à forma como reagimos a um comentário no trabalho. A diferença está em assumirmos o controlo dessas decisões”, destacou.

“Devemos estar atentos às nossas emoções, concentrar-nos na resolução do problema em vez de querer vencer o conflito e manter o foco no essencial”, apontou.

A psicóloga Eliana Machado, especialista em equilíbrio e bem-estar, dinamizou uma sessão interativa com os participantes, apresentando casos práticos sobre a gestão de conflitos nas empresas e possíveis soluções para um ambiente de trabalho mais saudável.

 

A motivação dos trabalhadores é a chave do sucesso

 

“Trabalhadores motivados são a chave para o sucesso das empresas”, afirmou, destacando a importância de estratégias eficazes para promover o bem-estar organizacional. Entre as medidas sugeridas, apontou a realização de reuniões de feedback, incentivos monetários, atividades de teambuilding, boa comunicação interna, criação de canais de diálogo, valorização e reconhecimento dos trabalhadores, formação contínua e uma liderança inspiradora em vez de uma chefia autoritária.

Para Eliana Machado, investir no equilíbrio emocional dos colaboradores não é apenas uma opção, mas uma necessidade para o crescimento sustentável das empresas.

A sessão de abertura contou com a intervenção do presidente da AIRO, Jorge Barosa, e da vereadora Conceição Henriques.

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