No âmbito destas comemorações, foi apresentado o logótipo oficial do centenário bem como a peça de cerâmica alusiva à efeméride criada pelos formandos desta disciplina do projeto “Universitários 50+”. O logótipo, elaborado pela aluna Isabel Véstia, do 10.º ano do Curso de Artes Visuais do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó, representa a tradição azulejar tão caraterística do concelho.
As comemorações contaram também com o regresso das atividades culturais ao Anfiteatro Municipal. A banda Lucky Duckies foi a primeira a pisar o palco deste espaço emblemático do concelho após a sua requalificação, para um concerto bastante aplaudido.
Já na tertúlia dinamizada pelo técnico do Município, Nuno Ferreira, foi feita uma contextualização da 1.ª República, a nível local e nacional, bem como dos acontecimentos que levaram a que o Bombarral fosse elevado a vila.
Segundo descreveu, o processo de elevação do Bombarral a vila teve o seu florescer há muito tempo, mais precisamente no ano de 1535, quando o poeta, vitivinicultor e juíz de órgãos Anrique da Mota, tentou, por intermédio de Fernando Taveira, conseguir que o Rei D. João III elevasse o Bombarral a vila.
“Esta iniciativa esbarraria na reação dos notáveis de Óbidos, que, alegando já ter o concelho perdido as vilas do Cadaval, Salir do Porto, Caldas da Rainha e Alvorninha, não podia agora perder também o Bombarral, por acaso a terra mais rica do concelho”, referiu.
“Exerceram influência junto da Rainha, sendo que as rainhas portuguesas sempre foram mulheres poderosas e influentes”, vincou.
O tempo passou sem nota de mais tentativas de criar o concelho do Bombarral. Tudo muda em junho de 1887, quando, por influência de Casimiro da Silva Marques, o caminho de ferro chega ao Bombarral.
O comboio trouxe riqueza, empreendedores e ideias novas. Em poucos anos fizeram-se fortunas nesta terra. Um desses homens foi o caldense José Manuel Proença, que se tornou proprietário do Casal do Rosário, e foi quem teve a ideia de criar o concelho do Bombarral.
“Nem era nada de surpreendente. Pinheiro Chagas referia-se a Óbidos como a vila mais triste de Portugal e, 1908, o escritor Alberto Pimentel, comparando as suas terras, profetizava que não ficaria surpreendido se a cabeça de concelho fosse decepada de Óbidos e instalada no Bombarral. Nesse mesmo ano, num comício republicano que decorreu no verão no Bombarral, João Chagas, prometia que se a República fosse implantada se mudaria a sede do concelho”, relatou Nuno Ferreira.
A 18 de março de 1914 o partido democrático de Afonso Costa vota a favor e está criado o concelho do Bombarral.
A instabilidade da I República arrastou o assunto e só em abril de 1925 houve condições para elevar o Bombarral a vila, sob proposta de Costa Júnior e Silva Barreto. Foram precisos 390 anos para cumprir o sonho de Anrique da Mota.